Disco: “Sleeper”, Ty Segall

/ Por: Cleber Facchi 22/08/2013

TY Segall
Lo-Fi/Garage Rock/Indie
http://ty-segall.com/

Ty segall

Quando Ty Segall vai parar e tirar um dia de descanso? Espero sinceramente que não tão cedo. Um dos nomes mais importante da nova geração de músicos estadunidenses voltados ao Garage Rock, o guitarrista original de São Francisco, California chega ao oitavo disco em carreira solo esbanjando boa forma e provocação. Intitulado Sleeper (2013, Drag City), o presente trabalho foca na desconstrução de boa parte dos inventos apresentados pelo músico no último ano, prova de que a certeza está longe de fluir como algo natural para a obra do guitarrista.

Diga adeus às melodias, paisagens psicodélicas e toda a avalanche de referências entregues por Segall até poucos meses. Quem entrar em Sleeper procurando pela mesma dose de sons apresentados nos discos Slaughterhouse, Twins ou qualquer outro trabalho lançado em 2012 talvez se decepcione. Nada polido em relação aos exemplares recentes, o atual lançamento encontra na estranheza dos arranjos e vozes um princípio de transformação. É como se o californiano intencionalmente buscasse manchar o personagem que ajudou a desenvolver, transformando o álbum em um resumo musical tão esquizofrênico que mais parece uma fuga.

Reflexo natural das próprias escolhas e temas que atualmente acompanham o cantor, o novo álbum foge do estúdio para crescer na atmosfera confessional de um quarto. Caseiro por opção, o disco traz no distanciamento das guitarras talvez a maior transformação de toda a obra de Ty Segall. Base para aquilo que o norte-americano vem desenvolvendo desde o meio da década passada, as guitarras assumem em acordes brandos e doses ponderadas de distorção um salto para a novidade. Sobra até para que uma nuvem de violões impulsionem o eixo inicial do registro, mais uma prova da completa reformulação da obra.

Espécie de regresso aos primeiros discos, quando Segall ainda parecia em busca de uma musicalidade específica, Sleeper é um trabalho de experimentos assumidos. Enquanto 6th Street repete a mesma psicodelia do álbum Twins, porém, em um amontoado de sonorizações típicas do Folk na década de 1970, outras como Queen Lullabye vão até a década de 1960 para buscar por novidade. Fragmentando bases do garage rock em um território sombrio que remete ao The Velvet Underground, o músico faz de cada peça do trabalho um objeto específico, a ser encarado de maneira isolada dentro da sequência de canções.

Por vezes nostálgico, Segall utiliza do trabalho de forma a homenagear uma série de personalidades, que assim como ele, trouxeram na insanidade um princípio de invenção para a própria obra. Estão lá transições pelo trabalho de Syd Barret, faixas que raspam no desespero de Lou Reed, até convergir para o que parece ser uma interpretação do universo autoral do californiano. Basta observar o quanto a mesma melancolia de Crazy e She Don’t Care poderia ser encontrada em obras prévias, tendo os atuais violões e guitarras tímidas substituídos pela agressividade natural de outrora. Fica a sensação de que o músico desenvolveu uma obra tão extensa, que por vezes parece perdido dentro dela.

Assim como a própria capa, Sleeper é uma obra de composição intencionalmente confusa, livre de qualquer garantia ao ouvinte. Todavia, buscar de alguma forma estabelecer um padrão ao mosaico de cores e sons que permeiam o trabalho parece ser um exercício criativo e tanto. Ty Segall deixa claro que não está nem um pouco interessado em encontrar conforto, motivo o suficiente para mergulhar sem medo no universo do novo álbum.

 

Sleeper

Sleeper (2013, Drag City)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Thee Oh Sees, White Fence e Mikal Cronin
Ouça: She Don’t Care e 6th Street

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.