Disco: “Slow Focus”, Fuck Buttons

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2013

Fuck Buttons
Experimental/Electronic/Ambient
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Por: Cleber Facchi

Fuck Buttons

Uma avalanche de sons e experimentos impulsiona o trabalho de Andrew Hung e Benjamin John Power em Slow Focus (2013, ATP). Terceiro registro da dupla britânica com o Fuck Buttons, o novo álbum é ao mesmo tempo uma extensão e uma completa reformulação dos sons alcançados previamente pelos produtores. Ao passo que Street Horrrsing (2008) se posicionava como uma necessidade do duo em brincar com os ruídos em um estágio próximo da anarquia, Tarot Sport trouxe logo no ano seguinte um nítido alinhamento da métrica torta da dupla, revelando um planejamento que brincava com o Drone, a eletrônica e o pós-rock em um esforço de natureza crescente. Era apenas o princípio para as invenções agora solucionadas em totalidade.

Longe de se ater ao passado, a dupla assume com o novo disco um efeito visível de composição hermética. Enquanto os álbuns anteriores, mesmo resolvidos em uma estrutura específica, dançam pelos sons em uma carga intencional de multiplicidade, com a chegada de Slow Focus a aproximação entre os temas conduz com maior efetividade a estética da dupla. Um passo firme em relação ao composto melhor entendido de 2009 e um aproveitamento naturalmente adulto dos sons – principalmente na forma como os instrumentos surgem pelo novo disco. O experimento é constante e expressivo, porém, delimitado.

Com as canções apresentadas em um estágio pleno de relação musical, surge ao longo do disco um esforço de entender cada faixa como um ato isolado a ser alinhado. A julgar pela maneira como os sons crescem em um teor épico até a chegada da música de encerramento, Hidden XS, o disco incorpora de forma decidida a manipulação de um efeito temático, como se a dupla buscasse “contar uma história” até o fecho do disco. Isso fica evidente na maneira como cada música parece colada na canção seguinte, evitando respiros e resumindo o disco em uma faixa única, imensa. Slow Focus não é apenas um maior entendimento sob o trabalho do Fuck Buttons, mas sobre a própria obra em si.

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Tratados em um estágio claro de limpidez, os sintetizadores deixam de guiar a estrutura musical do disco para se entregar ao percurso estipulado em totalidade pelas batidas. A escolha possibilita ao duo uma maior oxigenação dos sons, que arrastam a composição final do disco para um meio termo entre o Krautrock alavancado na década de 1970 (principalmente no trabalho de Can e Neu), e a eletrônica tribal que ocupou parte expressiva da década de 1990. Logo de cara, Brainfreeze indica quais são as novas escolhas da dupla britânica. Grandiosa, a composição orquestra nas batidas um princípio para o que é resolvido em maior acerto com Sentients e The Red Wing, esta última, música capaz de revelar o lado mais “pop” do projeto.

Ainda que exista um esforço da dupla em trabalhar cada faixa como parte de uma mesma ideia, isso não quer dizer que Slow Focus exclua uma série de conceitos bem definidos nos discos anteriores. Exemplo disso está na formação de Stalker e Year Of The Dog. Enquanto a primeira lida com o aglutinado de ruídos em uma frequência caótica, a segunda explora os sintetizadores como um ventilador frenético de harmonias sintéticas, um resultado obviamente límpido em relação ao planejamento seguido em Street Horrrsing, mas de aproximação evidente. O melhor talvez seja perceber o quanto diversos elementos previamente assinados pela dupla se resolvem agora, marca evidente no maior aproveitamento instrumental e na fragmentação completa das vozes.

Mesmo sem romper com a identidade pregressa, Hung e Power fazem de Slow Focus um capítulo à parte dentro do catálogo de sons iniciados há quase uma década. Até mesmo a capa do álbum parece fugir dos “padrões” impostos visualmente pela dupla. Há por todo o disco um visível senso de limite musical e ainda assim ruptura, transformando o álbum em um objeto de descoberta temporária, como uma experimento paralelo antes da construção de um resultado definitivo. Teste ou não, Slow Focus assume com segurança o que parecia assustar ao final de Tarot Sport: O Fuck Buttons está longe de se acomodar.

Fuck Buttons

Slow Focus (2013, ATP)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Dan Deacon, Emeralds e Holy Fuck
Ouça: The Red Wing, Hidden XS e Brainfreeze

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.