Disco: “Slow Summits”, The Pastels

/ Por: Cleber Facchi 18/06/2013

The Pastels
Scottish/Indie/Alternative
http://www.thepastels.org/

Por: Cleber Facchi

The Pastels

O tempo funciona de forma bastante particular nas mãos do grupo escocês The Pastels. Com mais de três décadas de atuação, a banda formada em Glasgow no ano de 1981 prova que a experiência e a plena compreensão da própria obra ainda são atributos essenciais para qualquer banda, efeito que o coletivo administra de forma criativa com a chegada de Slow Summits (2013, Domino), quinto registro em estúdio e primeiro trabalho dos britânicos passado um hiato de 16 anos. Sucessor do quase inexpressivo Illumination (1997), o novo álbum explora a essência abordada pelo grupo desde o começo de carreira, em uma medida talvez maior e até mais assertiva.

Delicado, este parece ser o primeiro entendimento em relação ao novo álbum dos escoceses, trabalho que concentra em cada uma das nove composições espalhadas um delineamento que bebe da calmaria como um exercício de movimentação natural. Um composto agradável que brinca com a herança do Beach Boys e outros grupos que passearam pelo Chamber Pop, faixas que desembocam nas emanações leves do Dream Pop (no melhor estilo Galaxie 500), até alcançar a mesma candura proposta pelo Belle and Sebastian nos anos 1990. Três décadas de experiências acumuladas capazes de dançar em uma medida criativa e leve durante todo o tempo.

Construído ao longo de 15 anos, o disco assume logo na faixa de abertura, Secret Music, uma medida de tempo própria e que orienta todo o restante do álbum. Entre arranjos que acumulam vozes e guitarras dentro de um esforço compacto, Slow Summits alcança um compreendimento lírico e instrumental talvez maior do que qualquer outro registro da banda. Ainda que a essência que conduz o coletivo seja a mesma que a imposta em Up for a Bit with The Pastels (1987), trabalho de estreia do grupo, cada passo dentro do novo álbum atende por uma sonoridade específica e de forte aproximação com o presente, proposta que rompe de forma natural com qualquer redundância sonora.

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Contrariando de forma nítida as pequenas rajadas de guitarras espalhadas pelas obras iniciais, com o quinto disco o The Pastels – representado na presença de Stephen McRobbie e nos vocais de Katrina Mitchell – incorpora uma sonoridade de profunda leveza e evolução quase atmosférica. Arranjos de sopro, pianos e xilofones se espalham por todo o trabalho, puxando o ouvinte para um cenário que mesmo urbano não rompe com a essência bucólica. Dessa forma, faixas como Summer Rain e After Image crescem em uma medida de pleno acolhimento, como se tudo fosse decidido em um cenário instrumental de profundo entendimento e aproximação sonora entre as músicas.

Embora cada composição esculpida pelo trabalho se sustente dentro de um esforço isolado, esbanjando arranjos próprios e temáticas específicas, o encaminhamento homogêneo dado ao disco é o que de fato prende as atenções do disco. Tudo é explorado como um imenso bloco de sons acolhedores, seja na exposição crescente de Night Time Made Us ou na aceleração leve de Check My Heart, canções que praticamente se complementam. Espécie de The Jesus and Mary Chain limpo ou Teenage Funclub floral, o grupo usa de cada arranjo como uma peça significativa a ser encaixada, como se mesmo os instantes imprevisíveis do trabalho fossem tratados conscientemente de forma a arquitetar o todo do registro.

De natureza instrumental e poética particular, Slow Summits é um trabalho que parece limitado de forma natural, como se fosse orquestrado para crescer até um ponto específico e depois estacionar. O cercado sonoro que ambienta o disco, entretanto, em nenhum momento prejudica a natureza da obra, pelo contrário, é como se a previsibilidade do disco fosse necessária. Um exercício de ouvir já sabendo o que será encontrado, sem que para isso o ouvinte caia em um possível jogo redundante. Bom seria se todos os retornos musicais fossem assim.

The Pastels

Slow Summits (2013)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Belle and Sebastian, Teenage Funclub e Rocketship
Ouça: Summer Rain e Night Time Made Us

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.