Disco: “Smoke Ring For My Halo”, Kurt Vile

/ Por: Cleber Facchi 09/03/2011

Kurt Vile
Indie/Lo-Fi/Psychedelic
http://www.myspace.com/kurtvileofphilly

Por: Cleber Facchi

Embora Childish Prodigy (2009) não seja um trabalho tão memorável, o disco serviu para que a carreira de Kurt Vile desse uma pequena guinada. Primeiro álbum do músico lançado pela Matador Records, as onze faixas daquele singelo registro apontavam para a formatação de uma sonoridade muito mais acessível, sem deixar de lado todas as nuances caseiras que tomavam conta dos primeiros registros do compositor norte-americano. Com Smoke Ring For My Halo (2011) Vile faz um retorno memorável e afunda em um som cuidadoso e acomodado em um toque lo-fi.

Mesmo que venha munido de guitarras em boa parte da dezena de sons que compõem esse trabalho é com o foco em uma instrumentação ponderada e sempre cantando baixo, que o músico alimenta esse disco. Cada música passa uma sensibilização melancólica e ainda assim envolvente, como se fosse necessário chafurdar junto Vile tanto em seus momentos mais sombrios, como nos raros casos em que o músico perpassa um som sóbrio e “alegre”.

Esse quarto álbum não deve ser visto como um amadurecimento na curta carreira do músico da Filadélfia. A maturidade do compositor havia se firmado já em seu anterior lançamento, a grande diferença neste novo registro está no formato limpo que foi alcançado nas canções. Enquanto Constant Hitmaker (2008) e God Is Saying This To You (2009) eram trabalhos literalmente gravados em um quarto e de maneira mais artesanal possível, o contrato com a Matador possibilitou que Kurt tivesse acesso a um equipamento de gravação melhor, possibilitando assim um som mais audível dentro do novo disco.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=mdIXrcH7QLU?rol=0]

Apesar das canções de Smoke Ring For My Halo soarem menos sujas isso não quer dizer que o formato recluso anteriormente alcançado dentro dos outros discos não se faça presente. Em Peeping Tomboy, Vile pode até não contar com uma sobrecarga de ruídos para movimentar os cuidadosos acordes da canção, algo que sempre circundava suas antigas composições, porém a maneira como o violão e os vocais ecoam na música trazem de volta o toque doméstico de suas velhas criações. De fato as últimas canções como Smoke Ring For My Halo e Ghost Town embarcam o músico dentro de um universo psicodélico e orgânico muito similar aos seus primeiros lançamentos.

Independente do compositor apresentar uma sonoridade mais cuidadosamente talhada na primeira metade do disco, reservando seu lado mais conhecido para o término dele, músicas como Jesus Fever e sua temática limpa só engrandecem o trabalho. Perceber as texturas e toda a melodia de Vile chegando de maneira clara aos ouvidos é simplesmente formidável. Assim como aconteceu ao The Dodos em seu recente No Color (2011) o músico parece ter limado bem as arrestas de suas criações, moldando um som redondo e de fácil assimilação.

Smoke Ring For My Halo mostra ao longo de seus 46 minutos o quanto é um trabalho bem resolvido e direcionado. O amadorismo dos anteriores registros de Kurt Vile de forma alguma devem ser esquecidos, porém encarar o músico como um ainda principiante seria um erro. Vile não é mais um músico em inicio de carreira, destilando sons psicodélicos por meio de gravações simplistas em seu quarto, feito que fica mais do que esclarecido com esse novo e belo álbum.

Smoke Ring For My Halo (2011)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Julian Lynch, Real Estate e Ariel Pink’s Hunted Grafitti
Ouça: Jesus Fever

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.