Disco: “So Long, See You Tomorrow”, Bombay Bicycle Club

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2014

Bombay Bicycle Club
British/Indie/Alternative/
http://bombaybicycleclubmusic.com/

Por: Cleber Facchi

BBC

Se a maturidade um dia chega para qualquer banda, em se tratando da britânica Bombay Bicycle Club ela foi construída ao longo dos anos. Apresentada como apenas mais um grupo no cardápio crescente do rock inglês, os londrinos fizeram do debut I Had the Blues But I Shook Them Loose, de 2009, apenas um rascunho em relação ao que estava por vir. Na trilha de Foals, The Maccabees e outros grupos locais que não se acomodaram em uma fórmula estática e confortável, o quarteto chega ao quarto trabalho de estúdio, So Long, See You Tomorrow (2014, Island), não apenas reforçando a boa forma, como a capacidade em romper com os próprios limites originais.

De maneira expressiva em relação aos anteriores projetos da banda – somam Flaws (2010) e A Different Kind of Fix (2011) -, a versatilidade talvez seja o traço mais marcante da presente fase do grupo. Sem um ponto de apoio específico, e longe da morosidade “folk” das primeiras canções, cada música detalhada pelo projeto assume uma direção isolada, mobilidade que se encaixa na capa colorida do disco, flerta com novas tendências e muda completamente a arquitetura instrumental dos britânicos. Eletrônica, música barroca ou pop, nada parece ser encarado como um princípio limitador para o BBC.

A colagem atenta de referências faz nascer músicas bem resolvidas e ainda melódicas no decorrer da obra, caso de Home By Now e Feel. Enquanto a primeira utiliza de experimentos controlados de forma a provocar o espectador, a segunda absorve os ritmos da World Music em um sentido de reproduzir um típico composto acessível para as massas. Sintetizadores, colagens eletrônicas e até samples posicionados em um Loop matemático, algo muito próximo das primeiras composições do Foals, porém, orquestradas dentro do que parece ser uma atmosfera conceitual própria do quarteto inglês.

Por falar nesse ambiente específico que envolve as canções do grupo, curioso perceber que mesmo íntimos de todo um conjunto de novas experiências, a relação com os primeiros discos ainda é constante. O melhor exemplo disso talvez esteja na formações de músicas plásticas e liricamente comerciais, fluxo que acompanha toda a produção de hits como It’s Alright Now e Luna. Pontuadas pelo uso de um refrão ascendente e guitarras tratadas em melodias quase encaixáveis, a dobradinha parece ser o princípio de atração para os ouvintes menos “corajosos” da banda. Uma evidente proposta de inovar sem necessariamente se livrar de antigos acertos.

Mesmo em meio ao universo de pequenas transformações da banda, talvez a alteração mais significativa esteja na completa fuga do óbvio que ocupa instantes pontuais da obra. O que antes poderia ser interpretado como uma redundante balada sombria ou hit descartável, agora se revela em um jogo adorável de reformulações pontuais, algo que a densa Eyes Off You ou mesmo a pop Whenever Wherever revelam com acerto. São vocais fragmentados, arranjos que brincam com os próprios exageros prévios do grupo, além de um detalhamento sonoro que revela toda a influência do Vampire Weekend pós-Modern Vampires of The City (2013). A mesma fórmula dos discos anteriores, apenas explorada de outra maneira.

Dentro desse conjunto de elementos ora simplistas, ora provocantes, So Long, See You Tomorrow cresce como uma obra autêntica dentro do concorrido cenário britânico. Ao mesmo tempo em que diversas faixas mantém a postura “inofensiva”, o detalhamento explícito de Jack Steadman como produtor, letrista e principal compositor do álbum arrasta o ouvinte para um cenário além dos limites típicos do gênero. O típico caso de uma obra que poderia ser facilmente esquecida, mas conseguiu dar a volta e merce ser lembrada.

BBC

So Long, See You Tomorrow (2014, Island)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: The Maccabees, Foals e Lucy Rose
Ouça: It’s Alright Now, Luna e Feel

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.