Críticas

Lucas Santtana

: "Sobre Noites e Dias"

Ano: 2014

Selo: Dignois

Gênero: Alternativo, MPB

Para quem gosta de: Gui Amabis, Curumin

Ouça: Partículas do Amor, Alguém Assopre Ela

8.0
8.0

Disco: “Sobre Noites e Dias”, Lucas Santtana

Ano: 2014

Selo: Dignois

Gênero: Alternativo, MPB

Para quem gosta de: Gui Amabis, Curumin

Ouça: Partículas do Amor, Alguém Assopre Ela

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2014

A mudança de direção a cada novo trabalho talvez seja a única constante dentro da obra de Lucas Santtana. Da colagem de ritmos nos dois primeiros discos – Eletro Ben Dodô (2000), Parada de Lucas (2003) -, passando pelo dub em 3 Sessions in a greenhouse (2006) e bossa nova em Sem Nostalgia (2009), há sempre renovação nos álbuns lançados pelo baiano – “confortável” apenas na melancolia sóbria de O deus que devasta, mas também cura (2012).

Em Sobre Noites e Dias (2014, Dignois), mais recente trabalho em estúdio de Santtana, curioso notar que a proposta do artista passa a ser outra. Ainda que álbum seja desenvolvido a partir de um novo tema/gênero específico – neste caso, a “música eletrônica” -, é evidente como grande parte da obra pode ser encarada como um atento resumo de toda a discografia do cantor.

Os arranjos de cordas na inaugural Human Time – típicos do álbum de 2012 -, o atmosfera pop de Funk dos bromânticos – com elementos resgatados de Parada de Lucas -, e até a travessia pelo dub em Let The Night Get High, cada canção amarra passado e presente com verdadeira naturalidade. Um imenso “remix” de cada porção instrumental lançada pelo artista nos últimos 14 anos.

Sutil, Santtana consegue reverenciar a própria obra sem necessariamente fazer disso o passagem para um disco nostálgico ou pouco inovador. Basta perceber a estrutura delineada para Alguém Assopre Ela, faixa que sintetiza toda a confissão do registro passado, incorpora vozes brandas – próprias do álbum lançado em 2009 – e ainda dissolve todos os elementos dentro de uma atmosfera eletrônica minimalista, inédita dentro dos conceitos do músico.

Também inéditas são as melodias de voz e versos quase “grudentos” aprimoradas pelo cantor. A julgar pela construção de músicas como Partículas do Amor, Montanha Russa Sentimental e Alguém Assopre Ela, Sobre Noites e Dias prevalece como o trabalho mais acessível e comercial de Santtana. Mesmo nos instantes mais densos, como em Human Time, ou no rap-dub-bilíngue de Diário de uma Bicicleta (ao lado do rapper De Leve), há sempre um verso ou mínimo elemento lírico capaz de prender o ouvinte com leveza.

Ainda que essa mudança possa ser encarada como parte de um disco “para exportação” – como bem reforçou Silvio Essinger -, Sobre Noites e Dias é um trabalho que parece conceitualmente amplo, alheio a um público específico – daqui ou do exterior. A julgar pela pluralidade de ritmos, temas e gêneros que preenchem cada espaço da obra, não seria errado afirmar que pela primeira vez Lucas Santtana parece capaz de dialogar e cantar para todos.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.