Disco: “Soft Will”, Smith Westerns

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2013

Smith Westerns
Indie/Alternative/Garage Rock
http://www.smithwesternsmusic.com/

Por: Cleber Facchi

A julgar pela ambientação caseira que tomou conta do primeiro registro em estúdio do Smith Westerns, cada música imposta pela banda de Chicago, Illinois em 2009 parecia voltada ao ruído. Uma visão particular das primeiras obras focadas no Garage Rock, porém, em uma medida caótica, sempre próxima do Noise Pop. Donos de versos que se esforçavam a soar pegajosos, mas que pareciam se perder em camadas nítidas de distorção, a banda trouxe em 2011 com Dye It Blonde uma clara transformação desse limite, controlando as doses imoderadas de distorção em prol de uma obra que brincava com o pop, exercício que volta a se repetir de forma ainda mais coesa e sutil em Soft Will (2013, Mom + Pop).

Extensão natural daquilo que a banda alcançou com o single Weekend há dois anos, ao ter início, o novo álbum brinca com a delicadeza dos sons em uma medida de esforço comercial e razões instrumentais encantadoras. Onde antes haviam ruídos e distorções, hoje crescem sintetizadores, guitarras envolventes e, principalmente, vozes límpidas. Como já era previsto no disco passado, em nova fase o grupo – hoje formado por Cullen e Cameron Omori, Max Kakacek e Julien Ehrlich – vai de encontro a um som de limites cativantes, uma relação que vez ou outra esbarra nos arranjos vocálicos dos anos 1960 sem se desligar das manifestações do Glam Rock na década seguinte.

Menos acelerado que o disco anterior, Soft Will é um trabalho que se atenta aos detalhes como premissa. O que antes era abordado de forma continua na manifestação de cada faixa, hoje se desdobra em atos, interlúdios e reformulações sonoras que crescem em diferentes percursos no interior de cada música, resultado que amplia de forma curiosa a atuação da banda no novo álbum. Bastam 3AM Spiritual e Idol, faixas de abertura do disco, para perceber a madura atuação do grupo. Trabalhadas em pequenas frações e mosaicos de detalhes, as canções assumem percursos variados durante toda a duração, o que distancia o grupo do Garage Rock seco em começo de carreira para trilhar uma nova leva de interpretações.

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Desenvolvido em cima de melodias que remetem ao segundo álbum do Girls (Father, Son, Holy Ghost) e até alguns aspectos menos psicodélicos da obra Real Estate, Soft Will incorpora no manuseio das guitarras em paralelo aos pianos a espinha dorsal que conceitua todo o registro. Efeito bem explorado na instrumental XXIII, a trança sonora imposta pelo grupo rompe com qualquer possível limitação que possa crescer pela obra. São quase cinco minutos de experimentações musicais que viajam até a década de 1970 para só depois brincar com o presente, uma inventividade que se estende até as canções seguintes, principalmente White Oath e Only Natural.

Longe de encontrar sustento e apresentação em cima de uma única faixa – o que em alguns aspectos prejudicou o rendimento da banda em Dye It Blonde, impulsionado por Weekend -, com o terceiro álbum é claro o esforço do grupo em temperar o trabalho com músicas de instrumentação acessível durante todo o percurso. Há desde baladas como Best Friend, na segunda metade do trabalho, até o quase arrasa-quarteirões Varsity, primeiro single do disco e faixa posicionada de forma assertiva no encerramento do trabalho. Sobram ainda os versos cantaroláveis de Idol, Fool Proof e 3AM Spiritual, um agregado de canções pop que em alguns momentos se aproximam da mesma musicalidade imposta em Afraid of Heights (2013), novo do Wavves.

Levando em conta as transformações que delimitaram o segundo e agora o mais novo álbum do Smith Westerns, a expectativa é a de que a banda se relacione cada vez mais com uma instrumentação de caráter abrangente. Sem medo de romper amarras e sobrepor diversos limites, Soft Will mergulha em um universo de tendências totalmente inimagináveis, ainda mais se apontarmos os ouvidos para o trabalho de estreia do grupo, lançado há quatro anos. Melancólico e encantador em uma medida natural, com o novo disco o grupo estadunidense dá um passo adiante, deixando de ser um mero exemplar na estante de artistas independentes, para ocupar um lugar de merecido destaque no grupo dos grandes da cena alternativa.

Soft Will

Soft Will (2013, Mom + Pop)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Wavves, Girls e Real Estate
Ouça: Idol, Varsity e White Oath

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.