Disco: “Some Kind of Pareidolia”, The Lonely Crowd

/ Por: Cleber Facchi 28/05/2011

This Lonely Crowd
Brazilian/Shoegaze/Alternative Rock
http://www.myspace.com/thislonelycrowd

Por: Cleber Facchi

Um tipo de dualidade percorre as 12 faixas de Some Kind of Pareidolia (2011), trabalho de estreia da curitibana This Lonely Crowd, banda que transforma seu debut em uma bela homenagem ao rock alternativo dos anos 90. Trazendo o máximo possível de referências para seu disco, o quinteto paranaense vai do shoegaze ao dream pop, do post-rock ao noise, mantendo sempre uma tríade de guitarras como mecanismos de condução, se revezando na criação de faixas que vão do suave ao agressivo em poucos segundos, instaurando um caminho duplo para suas canções, uma verdadeira bipolaridade instrumental.

Em meio ao mar de bandas que compõem o famigerado revival dos anos 90 (como Yuck, The Pains Of Being Pure At Heart e Cloud Nothing), a iniciativa dos curitibanos se apresenta em produzir um som ainda mais difícil, nada pop ou radiofônico. Através de uma onda de distorções e ruídos abafados, o quinteto – Tweedledum (guitarra), Tweedledee (guitarra), Humpty Dumpty (voz e guitarra), Jabberwock (bateria) e Red Queen (baixo e voz), todos pseudônimos retirados do livro Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll – que dá vida à banda se especializa em criar um disco que sabe como agredir e aconchegar o ouvinte.

É possível ouvir o álbum de duas formas. A primeira está em se aventurar pelas composições mais agressivas do disco, como a canção de abertura Sometimes We Only Start Again, a áspera Shimmered Reveries ou Frozen (In Time) Waterballoon. Sempre carregadas por uma camada intransponível de distorção, as faixas transparecem as claras inspirações da banda, como um The Smashing Pumpkins pré-Mellon Collie and the Infinite Sadness ou um Sonic Youth dos primeiros anos da década de 90. É através dessas composições que a banda demonstra toda sua funcionalidade instrumental, não poupando acordes ou rajadas amargas de guitarras.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=S3hLXQaL_vI]

Com um foco maior no dream pop e no post-rock, a segunda faceta do disco entrega canções cobertas por uma densa névoa de distorções suaves, solos alongados e uma bateria menos enérgica. Quase sempre evidenciando-se após as faixas mais agressivas do trabalho, as composições desse gênero apresentam o grupo em um seguimento musical quase etéreo, buscando no Galaxie 500 e em uma versão mais pacata do My Bloody Valentine as engrenagens para movimentar tais canções. Desse grupo surgem músicas como Where is When?, Rainbow’s Burns e Mastering the Art of Training Squirrels, sempre promovendo um direcionamento mais pacato e ainda assim tão belo, quanto sua faceta caótica.

Talvez o que mais dê destaque aos sons desenvolvidos pela  This Lonely Crowd sejam as pendências do grupo ao peso do Death Metal. Boa parte dos membros da banda são ex-integrantes de grupos ligados à esse tipo de som, o que em conjunto aos ritmos e elementos trazidos da década de 1990 trazem uma sonoridade densa e peculiar ao trabalho dos curitibanos. Um bom exemplo desse cruzamento de sons vem das composições mais alongadas do álbum, como Mastering the Art of Training Squirrels, em que as guitarras proclamam um som muito mais estrondoso.

Lançado através do sempre expressivo selo SinewaveSome Kind of Pareidolia se revela como um trabalho bem orientado e que cumpre de maneira hábil sua homenagem (mesmo que involuntária) aos anos 90. Entretanto, falta ao quinteto curitibano algo que realmente transmita sua identidade ao disco, algo que diferencie a banda de tantas outras, grupos que quase diariamente proclamam o mesmo tipo de som. A maestria de algumas composições, entretanto revelam que o quinteto segue no caminho certo, basta apenas algum elemento que não a trate como as demais.

 

Some Kind of Pareidolia (2011)

 

Nota: 7.4
Para quem gosta de: Harod Layne, Sobre a Máquina e Ruído/mm
Ouça: Where Is When?

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.