Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 01/07/2011

Inverness
Brazilian/Experimental/Indie
http://www.myspace.com/invernessbrasil

Por: Cleber Facchi

Adornados por um conjunto de elementos que esbanjam excentricidade instrumental e instabilidade rítmica, a paulistana Inverness traz em seu segundo trabalho de estúdio, o hipneotico Somewhere I Can Hear My Heart Beating (2010, Independente) um concentrado de faixas que brincam com as sonorizações experimentais, psicodelia e até pequenas doses de música pop. Estranhos no acalentado solo brasileiro, Lucas de Almeida, Marcio Barcha, Mateus Perito e Flávio Fraschetti invertem as lógicas do que se entende por música e passeiam por um som que ecoa reverberações etéreas.

Imerso em texturas suaves de guitarras, teclados psicodélicos, efeitos e sons ambientes o disco fica marcado pela sutileza de tais elementos e pelo encaixe quase perfeito que se desenvolve nas dez faixas que compõem o trabalho. As influências da banda são claras: O experimentalismo pop do Animal Collective, os paredões de guitarras e distorções do My Bloody Valentine, Galaxie 500 e Slowdive (trazendo um toque de”sujo” ao disco), além de uma (fundamental) aura de Radiohead em seu melhor momento na fase Kid-A (2000).

Menos urbano que o trabalho anterior, o também excelente Forest Fortress lançado em 2009, o mais recente disco da banda segue em cima de uma aura muito mais bucólica e orgânica, um claro resultado da inserção de flautas além do extenso e bem desenvolvido uso de violões em boa parte das canções. As guitarras, porém, não são deixadas de lado, fato que pode ser exemplificado pelas faixas Room in Twilight (que se lançada na década de 90 se converteria em clássico imediato) e Life’s Echoes.

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Com a participação de Sabine Holler (vocalista da banda paulistana Jennifer Lo-Fi) em Inside Diamonds, o Inverness consegue produzir uma das mais belas canções de 2010. A delicada voz de Holler se mistura às camadas de guitarra que percorrem a música, se contrastando com os vocais de Lucas de Almeida, vocalista do grupo. Outro claro destaque é Cloud Liquor, o primeiro single do disco, em que a voz de Almeida é abafada, enquanto distorções e doses suaves de teclados constroem toda a base da faixa.

Embora soe de forma incômoda aos ouvidos menos preparados, o álbum talvez seja o registro nacional que mais dialoga com a efervescente cena internacional em seu tempo. Dividido entre o excêntrico uso de diferentes tendências, ritmos e referências instrumentais, o disco parece fruto do que há de mais impactante e criativo no rock experimental dos anos 2000, sendo capaz de se posicionar na mesma altura que grandes artistas do mesmo gênero e seus respectivos lançamentos.

Tal qual a capa do disco, Somewhere I Can Hear My Heart Beating nada mais é do que uma infinidade de tonalidades e texturas que se complementam em sua execução. Em seu segundo disco, o Inverness consegue proporcionar aos ouvintes uma espécie de fuga ao que há de mais convencional e redundante dentro da música. Mesmo que siga os mesmos passos que seu antecessor, o álbum se adorna de melodias fáceis e letras cativantes, o que torna sua apreciação ainda mais agradável e acessível, mesmo àqueles que nunca se aventuram por tal tipo de som.

Somewhere I Can Hear My Heart Beating (2010)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Dorgas, Animal Collective e Deerhunter
Ouça: Room in Twilight

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.