Disco: “Songs For Imaginative People”, Darwin Deez

/ Por: Cleber Facchi 13/02/2013

Darwin Deez
Indie Rock/Experimental/Alternative
http://darwindeez.com/

Por: Cleber Facchi

Darwin Deez

Desde os primeiros trabalhos no final da década passada que o convencional esteve distante da obra de Darwin Deez. O pop, o rock e, principalmente, a maneira como o músico dialoga com o grande público se ambientam de forma naturalmente acessível, entretanto, nunca próximo do comum. Uma medida capaz de passear pela experimentação musical sem exageros, mas que de alguma forma se aproxima do ouvinte graças ao uso detalhado dos versos fáceis. Um tipo de contradições curiosas que fizeram de Constellations, Up in the Clouds e Radar Detector algumas das faixas mais conhecidas do jovem compositor, bem como uma base para a massa sonora que sustenta o segundo e mais novo álbum do artista.

Menos plástico que o antecesor e até mais experimental em relação aos primeiros inventos de Deez, Songs For Imaginative People (2013, Lucky Number) tira o músico da zona de conforto em que estava inserido, aproximando-o de um resultado que brinca de forma leve com a crueza das guitarras e a quebra constante dos vocais. Da primeira à última faixa é como se o artista enveredasse por uma continuação suja do que havia de menos óbvio no primeiro álbum, resultado que acaba privando o ouvinte de grandes hits e canções marcadas pelo mesmo toque radiofônico, mas que acaba apresentando Darwin à um cenário totalmente novo e de possibilidades diversas.

Talvez o mais interessante ao longo do disco seja perceber como o norte-americano se afasta de toda e qualquer referência que outrora definia sua obra de forma empolgada. Saem as pequenas intervenções eletrônicas, entra uma maior valorização dos sons orgânicos e pequenas massas de ruídos. É como se Deez abandonasse os ecos do Indie Rock dos anos 2000 em prol de um som ainda mais “antigo”, algo como um regresso não programado aos mesmos elementos instrumentais da década de 1990. Tal percepção se faz evidente na maneira como os ruídos são orquestrados de forma controlada, um meio termo entre o Pavemente (em versão mais pop, claro) e os trabalhos iniciais de Beck (livre das passagens pelo Hip-Hop).


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Oposto do que caracteriza o álbum homônimo de 2010, Songs For Imaginative People é um trabalho que possibilita ao músico brincar com as guitarras. Do momento em que inicia aos experimentos finais de Chelsea’s Hotel, cada faixa espalhada pelo álbum garante a Deez e aos parceiros de banda a possibilidade desferir solos e brincar com as distorções de maneira nada ponderada. Enquanto músicas aos moldes de Good To Lose são construídas inteiramente em cima do uso não compacto dos solos, faixas como Free (The Editorial Me) lidam com a explosão e a energia dos sons, valorizando mais uma vez a relação do músico com o rock alternativo da década de 1990, algo como uma interpretação nada tímida da obra de Beck.

Entretanto, é preciso notar que mesmo a nova formatação musical não exclui o músico da possibilidade de lidar com o detalhe. Se por um lado algumas das faixas explodem em distorções desenfreadas, por outro lado os mesmos ruídos servem de incentivo para abastecer boa parte das cuidadosas faixas que se esparramam pela obra. É o caso de All In The Wrist, música que amarra a mesma explosão de sons que caracterizam a atual fase de Deez em prol de uma sonoridade não exaltada, elemento que se engrandece no uso pontual das guitarras cíclicas (no melhor estilo St. Vincent) em oposição aos vocais crescentes e essencialmente melódicos do cantor.

Por mais que uma audição inicial seja capaz de ocultar a mesma quantidade de hits que abasteciam a antiga obra do músico, com o passar do novo disco Darwin Deez prova que não abandonou o lado mais comercial de seu trabalho, apenas o transformou. Ao ser apreciado com cuidado, o novo registro apresenta ao ouvinte uma carga de composições tão ricas e pegajosas quanto os primeiros inventos do nova-iorquino, a diferença está na escolha de um percurso não óbvio e de resultado muito mais duradouro do que qualquer lançamento que precede a recente fase de Deez.

Darwin Deez

Songs For Imaginative People (2013, Lucky Number)


Nota: 7.0
Para quem gosta de: Beck, Mystery Jets e Kakkmaddafakka
Ouça: Free (The Editorial Me) e All In The Wrist

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.