Disco: “Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa”, Anelis Assumpção

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2011

Anelis Assumpção
Brazilian/Female Vocalists/Reggae
http://www.myspace.com/anelisassumpcao

 

Por: Cleber Facchi

O velho ditado, “a fruta não cai longe do pé” torna-se totalmente válido quando nos deparamos  com Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa (2011), estreia de Anelis Assumpcão, fruto que não caiu, mas desceu suavemente da árvore plantada pelo cantor e compositor Itamar Assumpcão. Seguindo os passos iniciados pelo pai em meados dos anos 80, a cantora se embrenha pelas nuances da música brasileira, trazendo para junto de sua composições cargas e experimentações variadas, cruzando os mais distintos ritmos que brotam ao redor do globo.

Ao lado de nomes como Céu, Tulipa Ruiz e Karina Buhr, Assumpção quebra as regras daquilo que durante anos definiu o que seria o papel das mulheres (ou simples intérpretes) na música popular brasileira. Dona de seu próprio som, a cantora e musicista brinca com as melodias, assume a maioria dos versos expostos ao longo do álbum e dá todos os apontamentos do que venha se desenvolver ao longo de sua estreia. Um tipo de disco, que embora se complete pela inclusão sábia de uma variada orquestra de músicos e múltiplas colaborações mantém a cara e a voz de sua guia.

Da largada ao fechamento, Sou Suspeita… é um disco que circunda três gerações da família Assumpção. Mulher segundo meu pai, canção que inaugura o trabalho vem dos versos do saudoso Itamar (morto em 2003 em decorrência de um câncer no intestino), que inclusive empresta sua voz antes que a filha se apodere de forma bela de seus versos. A segunda geração da família vem representada por Anelis, que pelas próximas composições deixa sua voz escorrer suavemente, se misturando aos instrumentos, isso até que a pequena Rubi, filha da cantora, pontue o disco com seus vocais pueris em Paixão Cantada (O Urso da Cara Brilhante), fechando assim o ciclo familiar do álbum.

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Mesmo que a presença de Anelis se mantenha firme e forte até o desfecho de sua obra é a suavidade exposta em seus versos que invade os ouvidos e faz deles uma morada. Surgindo de maneira frágil, a cantora expõem temas como o desencontro em Bola com os Amigos ou contos de fadas na delicada Neverland. A musicista até brinca com a sustentabilidade na açucarada Amor Sustentável, transbordando versos românticos e carregados de certa comicidade como “Eu quero ter uma vida bioagradável com o meu amor/ Consumir conscientemente o gozo e a dor”.

Os ditados parecem fazer parte do trabalho de Anelis, depois do “a fruta não cai longe do pé” é o velho “diga com quem andas que te direi quem és” que se evidencia. Normalmente empregado de forma a definir as (péssimas) amizades de algumas pessoas, aqui a frase ganha conotações positivas, afinal é ao lado de nomes como Curumin, Max B.O., Karina Buhr, Céu e Thalma de Freitas que a cantora preenche a sonoridade, as vozes e a alma do álbum, trazendo referências bem perceptíveis de cada um de seus colaboradores.

Como um gigantesco mosaico, Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa proporciona desde sambas calorosos (Passando a Vez), reverberações preguiçosas do reggae (Bola com os Amigos e Neverland), Jazz (One Day), Bossa Nova (Deita I) e até um caldo de música pop derramado em cada uma das faixas. Caloroso e moldado através de uma instrumentação bem conduzida, o disco vem apinhado de sons que mesmo radiofônicos quebram facilmente a lógica da MPB tradicional ou de todos os clichês tomam conta de parte relevante da música nacional.

Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa (2011)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Céu, Thalma de Freitas e Karina Buhr
Ouça: Amor Sustentável

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.