Disco: “Sounds From Nowheresville”, The Ting Tings

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2012

The Ting Tings
British/Pop/Electronic
http://www.thetingtings.com/thetings/

 

Por: Cleber Facchi

The Thing Things

O ano de 2008 foi um prato cheio para os interessados por música. Enquanto artistas “veteranos” como TV On The Radio e Deerhunter apresentavam alguns bons exemplares naquele momento, uma vertente de novos grupos como Fleet Foxes, Vampire Weekend e Crystal Castles tingiam com novidade e produção musical do período, transformando a música daquele momento em um mosaico de cores e variantes sonoras distintas. Entretanto, o verdadeiro destaque naquele instante não iria para nenhum destes artistas, mas sim para uma iniciante dupla britânica e o cardápio de hits que eles carregavam.

Goste ou não, mas se você frequentou alguma festa em 2008 – ou mesmo que tenha ficado trancafiado em um quarto –, provavelmente alguma composição do casal The Ting Tings acabou passando pelos seus ouvidos. Do ritmo crescente (e dançante) do hit Great DJ, passando pela viciante That’s Not My Name ou mesmo a menos empolgada Shut Up and Let Me Go, pelo menos seis das dez canções vindas de We Started Nothing foram vendidas e difundidas massivamente, transformando Katie White e Jules de Martino em duas das figuras mais comentadas do mundo da música naquele momento.

Por mais cativantes e facilmente assimiláveis que fossem as composições da dupla – calma, você não precisa ficar envergonhado se dançou ou até decorou alguma das canções do disco -, bastava um olhar não clínico para perceber o quanto a estreia do casal não passava de apenas mais uma tentativa (forçada) em se tentar vender música pop de baixa qualidade. Dos refrães redundantes, ao misto de Indie Rock, eletrônica e até hip-hop amarrados de forma pretensiosa, tudo ecoa de maneira artificial, tanto que Be the One e We Walk, os dois últimos singles do trabalho foram forçosamente vendidos, afinal, nem comerciais as composições são.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=gHzgzN9H6QM]

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=gY-4Fq7pCsk]

Contudo, já diz o ditado “mentira tem pernas curtas”, e após quatro anos do pequeno fenômeno inglês, chega a vez do Ting Tings ser desmascarado, ou melhor, deles próprios revelarem a farsa em que estão metidos. Sob o nome de Sounds From Nowheresville (2012, Columbia), o segundo trabalho do casal inglês ecoa toda a falta de identidade de White e Martino, que não apenas tentam se sustentar ao longo de 34 minutos nas mesmas referências de outrora, como simplesmente abandonam os hits fáceis que os tornaram conhecidos para desenvolver um projeto “sério” e “adulto”.

Também composto por dez faixas, o disco se arrasta de maneira sonolenta, tentando em apenas duas faixas acessíveis – Silence e Hang It Up – promover o mesmo impacto causado há quatro anos. Livres de versos melódicos e refrães radiofônicos, o casal se afunda em pequenas melancolias (In Your Life e Help) e faixas em que pretendem evidenciar o lado instrumental do disco (Soul Killing), tentando o tempo todo soar como um projeto maduro, coisa que o casal nunca soube como trabalhar e provavelmente jamais saberá. É como se da noite pro dia o The Lonely Island abandonasse o bom humor que tornou a banda conhecidos para investir em música conceitual e séria – talvez eles até tenham mais sorte que o duo britânico.

Muito do que prejudica o disco está no atraso dele, afinal, a banda passou os últimos dois anos enrolando o público com o lançamento de um álbum que nunca chegava. Assim, não é difícil perceber o quanto o trabalho é atrasado (talvez fizesse mais sentido se fosse lançado no ano seguinte ao surgimento da dupla), como se todas as composições presentes no álbum não se relacionassem nem com o que há de mais pop e banal na indústria da música atual. Gostar de Sounds From Nowheresville não é apenas cair na mesma mentira do The Ting Tings, mas sim mentir para si próprio, tentando a todo custo engolir o que é intragável.

Sounds From Nowheresville (2012, Columbia)

Nota: 0.5
Para quem gosta de: Nicola Roberts, Copacabana Club e Little Boots
Ouça: Hang it Up

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/25914891″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.