Disco: “Space Is Only Noise”, Nicolas Jaar

/ Por: Cleber Facchi 18/02/2011

Nicolas Jaar
Electronic/Minimal/Experimental
http://www.myspace.com/nicolasjaar

Algo de excepcional está mergulhado na água dos jovens contemporâneos. James Blake no ápice dos seus 20 anos de idade acaba de lançar um disco minucioso e que beira a perfeição. Dylan Baldi nem chegou à segunda dezena de sua vida e com o Cloud Nothings lançou um trabalho de fazer inveja a veteranos. Os quatro garotos do Smith Westerns são outros que esse ano proporcionaram um excelente álbum de estúdio e há pouco viram nascer os primeiros fios de barba na face. Quem também acaba de lançar mais uma pérola musical é jovem nova-iorquino Nicolas Jaar, que há pouco adentrando os 20 anos de vida acaba de lançar um trabalho tão detalhista e cuidadoso que seria facilmente apontado como o de algum músico tarimbado da cena eletrônica.

Ao contrário do minimalismo que flui nas ressonâncias do dubstep, o músico norte-americano se apoia no desenvolvimento de faixas voltadas para o jazz, deep house e para o experimentalismo. A climatização desenvolvida dentro do álbum vem muito por conta da adolescência de Jaar e suas aventuras por banda de ascendência jazzísticas. O rapaz que passou boa parte da vida morando no Chile antes de voltar aos EUA se especializa na utilização de uma percussão volátil para cobrir com ruído cada mínima lacuna de Space Is Only Noise (2011) seu debute.

Enquanto James Blake se utiliza do uso massivo de loopings e fenômenos acústicos sintéticos, Jaar busca na inserção de elementos orgânicos a principal fonte do disco. Dessa forma o produtor faz fluir uma infinidade de espaços e cenários imaginários para cada uma das faixas do álbum, mesmo até para as pequenas vinhetas que vão ocupando o trabalho. Êter, que abre o álbum, transporta o ouvinte para dentro de um universo aquoso, em que as colagens de vozes e pequenos ruídos eletrônicos se complementam pelo sampler de ondas e ambientes aquáticos. Objetos sendo derrubados compõem boa parte do que dá forma à Sunflower, uma composição curta, mas que proporciona um sentimento angustiante em quem a ouve.

Em Almost Fell a mesma sensação de umidade e uma aura claustrofóbica permeada por pequenos ruídos aleatórios levam o ouvinte para dentro do lado obscuro do disco. A mesma canção entrega ainda um piano desconstruído ao fundo, instrumento que gradativamente vai ganhando destaque dentro da pequena obra de Jaar.

Na verdade uma gama de instrumentos vai gradualmente ganhando um notável espaço dentro de Space Is Only Noise. Guitarras se apoderam de Too Many Kids Finding Rain In The Dust, instrumentos de sopro chegam de modo quebrado em I Got A Woman, já Colomb garante o clima conciso por conta do bem elaborado uso de um contrabaixo movimentando a canção.

Ao explorar a faceta jazzística do álbum Nicolas deixa de lado a figura de produtor e se converte em músico, e só por observar faixas como Variations que se torna visível a qualidade e o domínio do jovem pelos instrumentos. Tudo bem que o dedilhado de violão chega de maneira rebuscada, como se a música fosse picotada e posteriormente montada em novo formato, quase como um poema dadaísta. Apesar do sentido aqui ser outro não há como negar a semelhança com o disco Sem Nostalgia (2009) de Lucas Santtana, principalmente se compararmos com faixas como Super Violão Mashup e O violão de Mario Bros.

Se através das canções pontuadas por uma variedade de mecanismos orgânicos o produtor brilha como ninguém, quando assume seu lado puramente eletrônico temos Jaar criando na mesma (se não maior) intensidade. Space Is Only Noise If You Can See vem carregada de sintetizadores pesados, que mesmo dentro do formato minimalista dado ao disco despejam uma brutalidade excepcional.

A desconstrução parece ser o elemento central dentro dessa nada singela estreia. Jazz, Deep House, Minimal, eletrônica e mesmo a musica experimental passam por um processo de reconstrução constante. Space Is Only Noise funciona como um enorme trabalho pontuado por inúmeros recortes, colagens e sobreposições de sons. Nada passa inalterado dentro do disco. Mesmo um singelo ruído percussivo, um teclar de piano ou um acorde austero de baixo chega montado de maneira nada convencional e montada por doses sábias de produção. Nicolas Jaar é como uma criança que faz seu primeiro trabalho com colagens, a diferença é que a “cola” nesse caso provém de sua genialidade.

Space Is Only Noise (2011)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: James Blake, How To Dress Well e Avey Tare
Ouça: Space Is Only Noise If You Can Se

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.