Disco: “Spellbound”, Jay-Jay Johanson

/ Por: Cleber Facchi 22/03/2011

Jay-Jay Johanson
Swedish/Trip-Hop/Electronic
http://www.myspace.com/jayjayjohanson

Por: Fernanda Blammer

Embora o trip-hop seja tratado como um estilo quase que exclusivo da década de 1990, muito por conta do peso de artistas como Portishead e Massive Attack, o gênero ainda nos presenteia com uma gama de belos trabalhos. Discos sempre embarcados pelas batidas compenetradas, sampleres reclusos e uma melancolia envolvente, que em muitos dos casos fluem de artistas dissidentes desse mesmo período. Se aventurando pela prática desde 1996, o sueco Jay-Jay Johanson volta com mais um belo registro de pura sensibilidade e comoção.

A forma como o músico trabalha seu novo disco – Spellbound (2011) – de maneira mais natural e ausente de batidas sintéticas faz com que seja até possível desvincular Johanson de seus antigos trabalhos. Enquanto a postura pensada dentro do trip-hop, synthpop e outras variações da eletrônica em anteriores projetos eram a marca do produtor, agora são os sons muito mais orgânicos e vívidos que se evidenciam.

Durante todo o tempo Jay-Jay se apresenta em meio a um som baseado em pianos e acordes sofisticados de violão (em alguns momentos violinos e trompetes também dão movimentação ao álbum), deixando a música eletrônica apenas como elemento de complemento ao trabalho, como se ela apenas circundasse tudo a distância, raramente se apresentando de maneira mais exposta e intensa. O clima acústico por sua vez encaminha o ouvinte para um passeio sonoro suavizado e envolvente.

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Se em seus primeiros discos, como Whiskey (1996) e Tattoo (1998) o sueco despontava uma faceta muito mais energizada pelas batidas eletrônicas (além de nos apresentar a seu visual andrógino), em seu oitavo disco de estúdio (o músico conta ainda com a autoria duas trilhas sonoras) temos um artista que caminha pelo mesmo campo do conterrâneo Jens Lekman. Porém, enquanto músico dono de pérolas do indie pop contemporâneo como Night Falls Over Kortedala (2007) nos seduz com sua sonoridade orquestrada, Jay-Jay nos prende com seus sons ponderados e repletos de controle.

Mesmo que venha amarrado a um som reducionista é impossível não se emocionar com a melancolia que aflora em cada uma das faixas do álbum. Seja pelo clima jazzístico de beldades como An Eternity ou através de canções puramente acústicas como Shadows, Johanson nos carrega de maneira segura para dentro do seu universo particular e confessional. Por mais que o ouvinte até tente é difícil na compartilhar do mesmo sofrimento do sueco.

Movido mais pela sinceridade do músico do que pela instrumentação em si, Spellbound é um trabalho que mesmo simplista consegue nos fisgar em uma rápida audição. As texturizações sonoras por sua vez acabam mostrando que em meio a uma temática simples existem sim elementos grandiosos que apenas enaltecem o trabalho. Um registro para ser apreciado em dias de chuva, embaixo dos cobertores ou mesmo em momentos ensolarados, independente do local desde que não seja descartado.

Spellbound (2011)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Jeans Lekman, Kings of Convenience e Sébastien Tiller
Ouça: Na Eternity

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.