Disco: “Star Wars”, Wilco

/ Por: Cleber Facchi 20/07/2015

Wilco
Indie/Alternative/Rock
http://wilcoworld.net/

Poucas vezes Jeff Tweedy e os parceiros do Wilco foram capazes de produzir um som tão jovial e enérgico quanto em Star Wars (2015, dBPM). Nono álbum de estúdio da banda de Chicago, Illinois, o registro lançado de surpresa, entregue gratuitamente ao público, soa como uma curva rápida e concisa em relação ao material instável assinado pelo coletivo desde o “estanho” Wilco (The Album), de 2009.

Com um pé na década de 1970 – Neil Young, Big Star – e outro no começo dos anos 1980 – The Fall, The Replacements -, Star Wars talvez seja o álbum em que a essência “roqueira” da banda seja melhor administrada. Trata-se de uma versão menos complexa do antecessor The Whole Love (2011), como se o grupo rompesse com toda forma de amarra experimental, garantindo ao público um som direto, limpo em conceitos, porém, sujo em se tratando da forma como as guitarras distorcidas sustentam cada canção.

Essa aparente estrutura “simplista” funciona apenas como a primeira camada da obra, um álbum em essência marcado pela complexidade dos temas, confissões e sentimentos. De forma contrastada, dosando entre a crueza dos arranjos e sutileza das melodias de voz, Tweedy e o parceiro de produção Tom Schick (Ryan Adams, She & Him) garantem um disco que joga com a interpretação do público. Um verdadeiro catálogo de versos entristecidos (You Satellite) e românticos (More…, Magnetized) delicadamente espalhados em uma colcha de guitarras pulsantes.

Ao mesmo tempo em que mantém firme a busca por um novo universo de possibilidades e arranjos rápidos, em Star Wars, não são poucos os momentos em que a banda cria pequenas passagens para a boa fase no começo dos anos 2000. Difícil não pensar na atmosfera suja e melancólica de You Satellite como uma possível sobra do clássico Yankee Hotel Foxtrot (2004). O mesmo vale para a apaixonada Magnetized, música que dialoga de forma particular com a mesma sonoridade explorada em A Ghost Is Born (2004).

Mais do que a explícita renovação musical e lírica, o nono álbum do Wilco chama a atenção pela forma como foi entregue ao público. Muito além de um simples “disco para download gratuito”, Star Wars é um trabalho que dialoga diretamente com as redes sociais e sites de busca. No mesmo ano em que a franquia criada por George Lucas volta aos cinemas, que outro título poderia ser mais assertivo em relação aos indexadores do Google? Sobre a capa do disco, o que poderia ser mais atrativo dentro do Facebook do que a simples imagem de um adorável gatinho? Imagine a soma de novos ouvintes que serão atraídas pelo simples ato de digitar “Star Wars 2015” em qualquer buscador. Decisão aleatória? Claro que não.

Mesmo a curta duração do álbum soa como um efeito dessa provável “renovação” por parte da banda. Com pouco mais de 30 minutos de duração, Star Wars é o trabalho mais curto de toda a discografia do Wilco – praticamente um “EP” perto de obras extensas como Being There (1996) e Summerteeth (1999). Uma coleção de guitarras, versos e vozes rápidas, como um novo ponto de partida dentro da sempre versátil carreira da banda.

Star Wars (2015, dBPM)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: My Morning Jacket, Ryan Adams e The War on Drugs
Ouça: You Satellite, Magnetized e More…

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.