Disco: “Static”, Cults

/ Por: Cleber Facchi 16/10/2013

Cults
Indie/Alternative/Lo-Fi
http://cultscultscults.com/

Por: Cleber Facchi

Cults

Poucos instantes na vida de qualquer indivíduo são tão estranhos quanto a fase de pós-relacionamento. Voltar ao começo, desapegar e reaprender certas atividades feitas “em conjunto”, são algumas das marcas que acompanham a atuação de qualquer pessoa que passa por esse estágio. Tudo esbarra em saudade e o sentimento de desajuste é constante, como se pequenas peças fossem aos poucos sendo remontadas. É dentro desse cenário melancólico e instável que cresce Static (2013, Columbia), segundo registro em estúdio da dupla nova-iorquina Cults, e o primeiro exemplar da banda desde a separação de Brian Oblivion e Madeline Follin.

Trabalhado em um ambiente de completa oposição ao resultado exposto no disco de 2011, o presente álbum encontra no desconforto do antigo casal um princípio para a movimentação inexata das faixas. As melodias empoeiradas de Go Outside, You Know What I Mean e demais canções do debut ainda permanecem as mesmas, a diferença está na forma como arranjos, vozes e versos flutuam em um cenário de encontros e desencontros. O que antes era assumido em pequenas declarações de amor e faixas tingidas pela intimidade da dupla, agora aparece como pequenas farpas, falseando sorrisos e amizade.

Ninguém sabe realmente quem está assistindo aqui (…) Deveria ter tomado a estrada/  Agora é como um longo caminho de volta”. Os versos posicionados logo na abertura de High Road parecem assumir com crueza e honestidade tudo o que atualmente define o universo particular da dupla. Distantes e ao mesmo tempo próximos, Follin e Oblivion revelam no cansaço o principal sentido de todas as canções do álbum. Resultado de uma extensa turnê de divulgação do primeiro disco, além, claro, de desentendimentos entre a dupla, o peso comprime as faixas em um ambiente que se faz desconexo, limitado perto do esforço quase ensolarado dos versos e sons entregues há dois anos. Um exercício de juntar os cacos para montar tudo novamente, sendo que algumas peças não mais existem.

Como o título coerentemente revela, Static é uma obra que se manifesta de forma suja, desordenada. As guitarras acústicas, tão expressivas em Walk At Night e Bumper, ou mesmo os sintetizadores harmônicos, típicos de Oh My God e Go Outside, agora se fazem inexistentes. Assumindo os comandos da obra, Oblivion firma a presença de guitarras rústicas, algo que a inaugural I Can Hardly Make You Mine anuncia como uma base para toda a orientação do disco. Mais do que isso, a presença dos ruídos distancia a banda de uma possível zona de conforto, substituindo o clima matinal pela noite, e a felicidade de outrora pela angústia.

Ainda que pavimentado em um ambiente protegido pela sombra, o álbum de forma alguma distancia a dupla da construção de faixas essencialmente melódicas e próximas do antigo público. Observado com atenção, Static talvez garanta um catálogo ainda maior de versos simplificados e efeitos arquitetados de forma radiofônica. Das vozes e sons que crescem em High Road, passando pela delicadeza de So Far, aos pontos de maior intensidade com We’ve Got It e I Can Hardly Make You Mine, cada etapa do disco evita barreiras.

Como se a dupla autorizasse o natural sufocamento do álbum, da abertura ao fecho Static é uma obra que cresce encoberta pelo sorumbático. Mesmo nos instantes em que o casal tenta consolidar faixas mais leves, caso de Keep Your Head Up e Shine A Light, há sempre um mecanismo que arrasta o disco de volta para o cenário obscuro a que está submetido. Ao final, entre tentativas de seguir em frente ou regressar, há ainda a melancolia de No Hope, música que se apropria de todos os elementos instrumentais do debut, porém em uma estética propositalmente depressiva. Espécie de aviso, a faixa entrega aos ouvintes a certeza de que não apenas a relação de Oblivion e Follin parece impossível de ser resgatada, como a antiga sonoridade exposta pelo casal. Dessa forma, para o bem, ou para o mal, é tempo de mudança na obra e nos rumos do Cults.

 

Cults

Static (2013, Columbia)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Best Coast, Tennis e Girls
Ouça: High Road, I Can Hardly Make You Mine e No Hope

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.