Disco: “Suck It and See”, Arctic Monkeys

/ Por: Cleber Facchi 19/05/2011

Arctic Monkeys
British/Indie Rock/Alternative Rock
http://www.myspace.com/arcticmonkeys

Por: Cleber Facchi

“O Arctic Monkeys poderia muito bem inventar um outro nome para essa banda nova, que eles acabaram criando”. A frase em questão foi proferida em meados de março por um colega meu, na época em que Brick By Brick, primeiro single de Suck It and See (2011) havia acabado de sair. No lançamento da mesma faixa, lembro que para definir o recente single interpretei a composição como “uma canção que soa como qualquer coisa, menos com… Arctic Monkeys”, e bem de fato é isso que os macacos do ártico fazem em seu quarto disco, algo totalmente distinto de qualquer som que tenham trabalhado, mesmo comparado com o roqueiro Humbug.

Há quem possa dizer, que ao lançarem o novo disco o quarteto britânico dá continuidade ao trabalho anterior, se afundando ainda mais nas sonoridades vindas dos anos 70 e desligando-se completamente de um rock dançante, algo explorado com afinco e uma quase marca registrada dos dois primeiros LPs da banda. Entretanto, atentamente observado esse novo álbum parece um leve retrocesso na carreira da quarteto, como se estivesse entre o britpop enérgico de Favourite Worst Nightmare (2007) e a quase psicodelia roqueira do álbum de 2009.

Quanto mais o disco se desenvolve, mais essa sensação de “trabalho perdido no tempo” torna-se evidente. É como se antes de alcançarem a maturidade em Humbug, a banda tivesse dado formas a esse “quarto” LP e aos poucos moldando aquilo que seria visto em faixas como My Propeller, Crying Lightning e Dance Little Liar (a melhor do álbum anterior). Talvez pela presença de Josh Homme (Queens Of The Stone Age) no controle de boa parte das gravações do disco passado, que as faixas seguiam por uma linha muito concisa, algo que parece totalmente distante com Suck It and See, com a banda mandando sons em cima de sons de forma excessivamente despojada e beirando certo descontrole.

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Talvez o que mais chateie nessa nova empreitada do grupo não seja o esbanjar de um som impreciso e multidirecional, mas as letras trabalhadas por Alex Turner. A idade e a experiência ao que tudo indica de nada serviram para que o britânico aperfeiçoasse seus versos, abandonando de vez a complexidade poética encontrada nas já clássicas A Certain Romance ou 505 e seguindo por uma via simples e clichê. Mesmo nos hits que mobilizavam o público à dançar, como Flourescent Adolescent e Fake Tales Of San Francisco, não havia somente o refrão e as redundâncias de palavras feitas para colar nos ouvidos, mas um vasto jogo de versos que se encaixavam e posicionavam Turner como um dos grandes compositores dessa geração.

O mesmo responsável por recriar pequenas crônicas pós-adolescentes e angústias de jovens adultos, hoje quer ser “rock and roll”, “te construir e te quebrar”, “tijolo por tijolo”, numa simplicidade excessiva e que beira o constrangimento. É ótimo ver que a banda não está presa em uma temática única e imutável, o problema está em fazer isso de forma genérica, longe da verdadeira beleza encontrada nas composições anteriores. Em Humbug, mesmo desenvolvendo um tipo de som opositor aos álbuns primários, tanto os versos quanto a instrumentação do álbum pareciam de fato maduros (até demais em alguns pontos), algo abandonando no novo disco e que transforma o Arctic Monkeys em apenas mais uma banda, tão simples e falha como tantas outras.

Suck It and See pode até não ser um trabalho catastrófico (comparado com Angles do The Strokes, o álbum dos londrinos é uma obra prima), entretanto fica muito atrás do que a banda já tenha desenvolvido. A presença de James Ford (Simian Mobile Disco) como produtor é praticamente inexistente, como se a banda estivesse livre a tentar o que quisesse, sem medo de sofrer qualquer represália futura. Por mais que algumas boas músicas como Piledriver Waltz, o arrasa-quarteirões Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair e a faixa de encerramento That’s Where You’re Wrong sejam de profundo agrado falta algo que realmente preencha o disco. Depois de três ótimos lançamentos, infelizmente a banda acabou tocada pelo “é bom, mas poderia ser melhor”.

Suck It and See (2011)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: The Last Shadow Puppets, The Strokes e Alex Turner
Ouça: Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.