Disco: “Suego Faults”, Wolf Gang

/ Por: Cleber Facchi 26/07/2011

Wolf Gang
British/Indie Pop/Alternative
http://www.myspace.com/thisiswolfgang

Por: Cleber Facchi

“What did you expect from The Vaccines”. Independente dos problemas que tomam conta do primeiro álbum da banda britânica The Vaccines, o título dado ao debut do grupo inglês beira a genialidade. Mesmo simplório, o nome dado ao registro lançado em meados de março surge como o mais exato para definir a estreia do quarteto londrino, afinal, mesmo antes de ser lançado eram as expectativas que cercavam e movimentavam a pequena obra. A força do título é tanta, que ele parece se encaixar em uma série de outros recentes lançamentos, quase todos vindos de território britânico e sempre acompanhados de inúmeros questionamentos e expectativas.

Quem talvez precise de um título similar para seu trabalho é o cantor e compositor Max McElligott, músico que oculto sob o nome de Wolf Gang acaba de lançar seu primeiro registro em estúdio, o aguardado e tomado de expectativas Suego Faults (2011, Atlantic Records). Desde que suas primeiras faixas foram lançadas na rede e seus shows começaram a aparecer em 2009, que o cantor passou a figurar como uma das grandes apostas dentro do badalado cenário britânico. Uma aposta que pode (ou não) ser comprovado dentro de seu debut, um registro de 13 faixas e que conta com a eficaz produção de Dave Fridmann, responsável por atuar em alguns excelentes discos lançados recentemente, como Innerspeaker (2010) do Tame Impala ou o clássico Yoshimi Battles the Pink Robots (2002) do The Flaming Lips.

Talvez o que mais prejudique o trabalho do britânico em sua estreia não sejam nem as expectativas lançadas sobre ele, mas a forma errônea como sua música foi vendida ao longo dos últimos seis meses. Desde que o lançamento do registro ficou estabelecido para o segundo semestre de 2011 que alguns sites e revistas “especializadas” passaram a apontar o trabalho do músico como uma das grandes apostas da música eletrônica, utilizando como base para tais afirmações seus primeiros singles – The King and All Of His Men, Lions In Cages e Dancing With The Devil -, algo que se revela de forma completamente errônea ao nos depararmos com a totalidade da obra de McElligott, um registro que flerta com as tendências eletrônicas, mas se sustenta em cima de outros pilares musicais.

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Passada a euforia da faixa de abertura, a já conhecida Lions in Cage (música realmente carregada de sintetizadores e efeitos eletrônicos), que finalmente temos a real noção do que se trata a obra do músico inglês. Em Something Unusual, segunda música do álbum, McElligott passeia pela soul music, pós-punk, indie pop, ecos de música pop dos anos 80 e aquele toque de composição levemente orquestrada no melhor estilo Florence + The Machine. Embora sejam possíveis assimilações com o trabalho de gente como Mika ou com os australianos do Empire Of The Sun, o britânico parece seguir por uma via singular, vasta e carregada de referências, algo que como dito vai para muito além de um mero amontoado de sonorizações eletrônicas, afinal, o som do Wolf Gang parece ganhar formas e vida.

Suego Faults segue de maneira impecável em sua musicalidade, sua poesia e em sua produção durante todas as faixas do trabalho, com Wolf Gang concentrando seus esforços não mais em suas já conhecidas composições (que aqui ganham novos arranjos), mas em um amplo jogo de novidades e músicas carregadas de ineditismo. Não há qualquer tipo de revolução dentro da sonoridade do disco, afinal, tudo que é apresentado surge como fruto de décadas de composições e influências vindas de distintos gêneros musicais, entretanto, mesmo sem qualquer tipo de novidade o álbum sabe como cativar o ouvinte, utilizando de suas melodias grandiosas, quase épicas em alguns momentos para manter os ouvintes sempre presos e contentes com o resultado estabelecido.

Embora agradável, não há duvidas de que o registro conta com alguns excessos, todos concentrados na segunda metade do trabalho e que poderiam facilmente serem limados. Planets, décima faixa do registro dá um fechamento muito mais digno à obra de McElligott do que a fraca Pieces Of You, música que assim como as irmãs composições que a precedem – Nightflying e Breaks In Paris – poderiam facilmente serem transformadas em um futuro EP, resultando em um disco mais “magro” e dinâmico. Qualquer expectativa de um registro ruim ou um trabalho que ficasse abaixo de seus primeiros singles vão aos poucos sendo derrubadas conforme o álbum vai se desenvolvendo, com Wolf Gang se posicionando em um disco de estreia coerente, belo e agora sim, uma verdadeira aposta para futuros grandes lançamentos.

 

Suego Faults (2011, Atlantic Records)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Florence + The Machine, Empire Of The Sun e Mika
Ouça: Something Unusual e The King And All Of His Men

 

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.