Disco: “Summer Knights”, Joey Bada$$

/ Por: Cleber Facchi 09/07/2013

Joey Bada$$
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://theproera.com/

Por: Cleber Facchi

Joey Bada$$

A nostalgia e o fascínio pela década de 1990 são complementos naturais ao trabalho de Joey Bada$$. Na contramão do que impulsiona de forma cada vez mais sintética as batidas e o fluxo eletrônico do rap norte-americano, o jovem de apenas 18 anos se apresenta como um nítido ponto de criatividade para a presente cena – tudo isso sem acrescentar nada de realmente novo ao naturalmente mutável gênero. Ainda imerso na mesma atmosfera dolorosa e no clima empoeirado imposto na mixtape 1999 (2012), o nova-iorquino fraciona as próprias melancolias e desilusões urbanas para transformar Summer Knights (2013, Independente), segundo trabalho solo, não em uma nova digressão pelo passado, mas em um mergulho pelas desilusões que o corrompem no presente.

Uma fuga e ao mesmo tempo um abrigo, este parece ser o propósito que reforça as composições de Bada$$ com o presente álbum. Menos tímido, o trabalho se afasta do cenário essencialmente cotidiano do registro anterior, ambientando letras que parecem caminhar pela mente do rapper como se encontrassem um novo panorama conceitual a ser explorado. Claro que a relação de Joey com as ruas ainda é uma constante inevitável, preferência que serve de cenário – real ou imaginário – para versos que vão da maturidade assumida (My Youth) aos percursos amorosos (Sorry Bonita). A diferença está na maneira como o jovem rapper olha para tudo isso, uma figura que ainda mantém firme a relação com o bairro onde cresceu, mas lentamente descobre todo um novo universo de referências – sejam elas físicas ou conceituais.

O resultado dessa fuga e descoberta de um novo mundo se reflete principalmente no instrumental que rege a obra. Outrora firmado de maneira quase caricata nas emanações da década de 1990, o álbum encontra no cruzamento entre batidas e bases harmônicas de piano um percurso maior do que o explorado há um ano. É como se o clássico Enter the Wu-Tang (36 Chambers) (1993) se encontrasse com a mesma aspereza dos sons impostos em The Chronic (1992), efeito que ao ser temperado por uma camada extra de Jazz e emanações típicas do trabalho de Kendrick Lamar resultam em um composto instrumental próprio de Bada$$. Basta o despojo de Hilary $wank ou o loop hipnótico de Sweet Dreams para perceber a transformação e os rumos entre a primeira e a segunda mixtape.

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Parte natural dessa transformação e possível crescimento de Bada$$ não está apenas na atuação individual do rapper, mas na frente ativa de colaboradores que preenchem com presença todos os espaços da obra. Enquanto novos parceiros como, Kirk Knight e Lee Bannon, incorporam o lado mais sombrio e estranhamente melódico do trabalho, colaboradores ativos na mixtape passada trazem de volta o clima nostálgico para a obra do nova-iorquino. É o caso de Chuck Strangers, bem instalado em faixas como Reign e My Youth, ou mesmo MF DOOM, que repete a atuação expressa no registro anterior para transformar Amethyst Rockstar em uma das boas composições da Mixtape. De forma precisa, Bada$$ lentamente amplia seus territórios.

Acompanhado de boa parte dos integrantes que compõem o Pro Era – coletivo formado por rappers e jovens produtores nova-iorquinos -, Summer Knights assume na multiplicidade um tratamento particular. Traduzido em um propósito menos anárquico que as orientações impostas pelo OFWGKTA, e de esforço menos comercial em relação ao exposto pelo Top Dawg Entertainment – selo que concentra Kendrick Lamar, SchoolBoy Q, Ab-Soul e Jay Rock -, o projeto dança de acordo com as orientações de Bada$$, mente que encontra na presença de cada integrante um natural efeito de complemento. O resultado está nas bases de Bruce Leekix com a acessível Death of YOLO, como nas rimas de 47 Goonz, parceria com Dirty Sanchez. Contudo, é na formação de Sorry Bonita que o grupo se revela em essência, traduzindo com acerto o que foi testado de forma tímida na mixtape PEEP: The aPROcalypse, há alguns meses.

Inicialmente anunciado como um EP, Summer Knights antecipa em conceitos, rimas e bases estéticas parte específica do que deve construir o primeiro registro oficial do rapper – previsto para meados de 2014. Trabalhado em cima de batidas em sua maioria letárgicas e versos orientados em um cenário particular de Bada$$, a mixtape se abre como um convite ao ouvinte, que aos poucos recebe autorização para caminhar pelo mesmo ambiente sombrio que tanto alimenta os inventos do artista. Maduro desde o primeiro lançamento, Joey traz com o recente álbum a consolidação visível em um cenário de argumento próprio, um projeto que mesmo bem definido em princípios, está longe de se acomodar em algum canto redundante do Hip-Hop.

Joey bada$$

Summer Knights (2013, Independente)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Pro Era, Chance The Rapper e Kendrick Lamar
Ouça: My Youth, 95 ‘Til Infinity e Amethyst Rockstar

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.