Disco: “Sunbather”, Deafheaven

/ Por: Cleber Facchi 05/06/2013

Deafheaven
Post-Metal/Experimental/Post-Rock
http://deafheaven.com/

Por: Cleber Facchi

Deafheaven

Talvez fosse a ambientação densa de Path of Totality do Tombs, o clima sombrio proposto pelo Wolves in the Throne Room com Celestial Lineage ou mesmo as experimentações do Liturgy em Aesthetica, mas o fato é que em 2011 a estreia do Deafheaven parecia apenas mais um objeto brilhante na montanha luminosa que brotava em solo norte-americano. Primeiro registro em estúdio da dupla californiana formada por George Clarke e Kerry McCoy, Roads to Judah trouxe nas quatro imensas composições que o sustentam um propósito claro de descoberta, como se as experiências dos dois componentes fossem direcionadas para o que é solucionado agora no complexo Sunbather (2013, Deathwish).

Valendo de uma sonoridade tão experimental e suja quando a que o grupo propôs há dois anos, o novo álbum expande as vozes guturais de Clarke na mesma medida em que os instrumentos crescem em um orquestral de razões épicas. Um cruzamento desconcertante entre o fluxo de natureza acelerado do Hardcore em oposição a atos imensos que dançam pela experimentação sem o distanciamento do Shoegaze. Décadas de referências que encaixam Slowdive, My Bloody Valentine e tantos outros artistas fascinados pelo ruído com a explosão de vozes e sons dos grandes representantes do Black Metal.

Mais do que aproveitar de um catálogo de referências previsíveis, ao seguir as pistas deixadas por artistas veteranos como Boris – nos clássicos Akuma no Uta (2003) e Pink (2006) -, a banda encontra na relação com o Pós-Rock um exercício de fluência criativa para a presente obra. Íntimos das experiências que acompanham os escoceses do Mogwai desde o começo da carreira, os norte-americanos vão além de resgatar elementos específicos de obras como Young Team (1997) e Come On Die Young (1999), transformando cada ato imenso do novo álbum em uma visão própria de tudo aquilo que vem caracterizando o gênero há mais de duas décadas.

Dessa forma, ao entender o novo álbum como um campo aberto aos experimentos que naturalmente abastecem a presente fase da banda, cada composição é observada como um ato isolado e ao mesmo tempo complementar para o imenso arsenal sonoro que se espalha pelo disco. Enquanto músicas mais extensas como Dream House, Vertigo ou mesmo a faixa título trazem um exercício detalhado de personificação das guitarras, utilizando dos vocais de Clarke como um atrito criativo para as melodias, os instantes menores, como em Irresistible, são preenchidos por detalhes e pequenas sutilezas melódicas. Momentos de prazer e calmaria que antecipam as ondas raivosas dissolvidas por todo o disco.

É preciso observar que mesmo arquitetado musicalmente de forma distinta, em Sunbather a banda jamais se distancia do que foi delimitado instrumentalmente no álbum de estreia. A aspereza dos vocais, sons e batidas se espalham por toda a obra de forma similar ao proposto em Roads to Judah, talvez em uma medida climática em alguns instantes, porém nunca brusca como chega a aparentar. Mesmo o conforto de faixas como Please Remember e Irresistible parecem fluir de maneira natural pelo disco, como se preenchessem as pequenas lacunas que George Clarke e Kerry McCoy intencionalmente deixaram abertas na crueza do debut.

Tratando com delicadeza a formatação bruta de Violet, Language Games e demais composições que marcavam de forma sombria o cenário do primeiro álbum, em Sunbather o Deafheaven parece simplesmente desenterrar uma série de elementos talvez esquecidos por outros artistas do gênero. Cada faixa espalhada pela obra desenha um cenário específico, fazendo com que ambientes bucólicos e planos acinzentados se cruzem de forma natural e por consequência de maneira hipnotizante durante toda a extensão da obra.

Deafheaven

Sunbather (2013, Deathwish)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Mogwai, Wolves in the Throne Room e Boris
Ouça: Dream House, Vertigo e Sunbather

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.