Disco: “Surf”, Donnie Trumpet & the Social Experiment

/ Por: Cleber Facchi 16/07/2015

Donnie Trumpet & the Social Experiment
Hip-Hop/Soul/Jazz
http://www.donnietrumpet.com/

Quantos artistas em carreira solo você conhece que seriam capazes de abandonar o próprio domínio autoral, nome e sonoridade para investir em um projeto coletivo? Poucos, correto? E se alterarmos o foco, apontando em direção o universo de egos e personagens reais que define o Hip-Hop norte-americano, quantos desses artistas teriam a coragem mudar a direção dos holofotes, atuando em segundo plano, como um possível “coadjuvante”?

A resposta é apenas uma: Chance The Rapper.

Depois de ser oficialmente apresentado ao mundo com a excelente mixtape Acid Rap, de 2013, o artista original da cidade de Chicago, Illinois, não apenas foi acolhido por parte da imprensa norte-americana, como partiu em direção ao grande público. Entre composições ao lado de James Blake, Lil Wayne, Skrillex e Madonna, o destaque acabou ficando por conta da parceria com Justin Bieber em Confident, uma das melhores criações do músico teen e a ponte para o imediato reconhecimento do rapper, cada vez mais disputado, cercado de colaboradores.

Em Surf (2015, Independente), primeiro álbum do artista dentro do projeto Donnie Trumpet & The Social Experiment, nada disso parece importar. Ainda que o nome do rapper seja utilizado para atrair a atenção do público, da abertura ao fechamento da obra, Chance assume apenas um “papel secundário”, como um coadjuvante funcional junto ao time de instrumentistas, cantores e outros responsáveis pelas rimas que interferem no processo criativo do trabalho.

Jogo de ritmos e fórmulas musicais propositadamente aleatórias, Surf vai do Soul ao Jazz, do Hip-Hop ao R&B romântico sem perder o controle. Ainda que o controle da obra esteja nas mãos do quinteto formado por Nico Segal (Donnie Trumpet), Chance The Rapper, Peter Cottontale, Greg Landfair Jr. e Nate Fox, a cada nova faixa, um time renovado de colaboradores. Interferências – líricas e instrumentais – que levam o disco até o Jazz de John Coltrane sem necessariamente cortar os laços com a recente cena montada por Flying Lotus e toda a soma de artistas da Costa Oeste dos Estados Unidos.

Por vezes íntimo do mesmo jogo de referências testadas por Chance em Acid Rap – vide faixas como Slip Slide e Familiar -, Surf logo assume um caminho irregular, próprio. Ainda que a relação do coletivo com a música explorada em diferentes décadas sirva de estímulo para a obra, difícil interpretar o atual registro como uma obra de natureza “nostálgica”. Em uma abordagem pop, marcada pelo frescor dos versos e arranjos, faixas como Go, Just Wait e a romântica Windows transportam conceitos lançados há mais de quatro décadas para o presente.

Com participações expressivas de Erykah Badu, Busta Rhymes, Janelle Monáe, Jeremih e Big Sean, mais do que um registro produzido “entre amigos”, Surf funciona como um verdadeiro passeio pelas diferentes cenas e movimentos da música negra em todo o território estadunidense. Uma coleção de faixas marcado pelo completo despojo, despretensiosas em alguns momentos, porém, amplas em conceitos, como uma curva inusitada e ao mesmo tempo essencial dentro da (curta) trajetória não apenas de Chance The Rapper, mas de cada colaborador.

Surf (2015, Independente)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Thundercat, D’Angelo e Janelle Monáe
Ouça: Slip Slide, Windows e Go

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.