Disco: “Sweet Heart Sweet Light”, Spiritualized

/ Por: Cleber Facchi 16/04/2012

Spiritualized
British/Space Rock/Psychedelic
http://www.spiritualized.com/

Por: Fernanda Blammer

Jason Pierce é um tipo de peça rara e por vezes nostálgica dentro da atual música inglesa. Logo que começou a se apresentar no começo da década de 1980, ao lado do parceiro Peter Jember no Spacemen 3, que o músico de Rugby, Inglaterra já parecia ter todas as estratégias e influências musicas bem definidas. O misto de psicodelia, rock progressivo, soul, gospel e recortes claramente relacionadas ao trabalho do The Velvet Underground estão presentes em cada mínima fração da carreira do artista, que ao chegar ao sétimo álbum com o Spiritualized – projeto em que assume todos os comandos – deixa transbordar estas e todo um novo conjunto de referências.

Não há como negar, desde que alcançou o ápice ao apresentar Ladies and Gentlemen We Are Floating In Space em 1997 que Pierce tem se revezado na construção de trabalhos dissidentes, produtos que partilham de uma mesma instrumentação e temáticas líricas bastante próximas. O britânico, entretanto, não é o único a “sofrer” disso. O próprio Radiohead ao lançar Kid-A no começo da última década ou mesmo o Wilco, com a apresentação de Yankee Hotel Foxtrot em 2002, têm feito dos registros seguintes pequenas continuações, trabalhos que mesmo fortemente influenciados por essas grandes obras conseguiram certo ponto de inovação, aspecto que Pierce estabelece com a chegada de Sweet Heart Sweet Light.

Menos amplo que o poderoso Songs in A&E – álbum anterior apresentado em 2008 – com o novo disco o músico explora o space rock de outrora de forma mais comercial, transformando os acertos épicos que antes o acompanhavam em algo menos complexo. A constante aproximação com a soul music ganha destaque, com o artista ocupando boa parte do registro com toques do que definiu o estilo ao longo da década de 1970, algo que se materializa logo no primeiro single, Hey Jane, e vai até o fim do disco. O foco na música clássica também ganha nova estrutura, com uma conversão do aspecto demasiadamente conceitual do trabalho anterior (álbum em que mais se aproximou do gênero) em algo mais plástico e por vezes até pop.

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Construído ao longo de dois anos em diversos estúdios e contando com mais um ano inteiro de pós-produção e mixagens, Sweet Heart Sweet Light é de fato um trabalho que esbanja toda o esmero e a paciência de Pierce em acertar os mínimos detalhes de um disco. Das guitarras que escorrem ao longo de todo o trabalho, passando pelos arranjos de cordas, pianos, efeitos e vozes, tudo se movimenta de forma sempre estratégica, como se cada mínima fração do projeto tivesse um motivo para se posicionar dessa forma. Ao mesmo tempo em que é possível absorver a obra como um todo, entregar-se aos pequenos detalhes que preenchem o trabalho é outro resultado da mais pura satisfação, como se o músico projetasse inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte em cada nova faixa.

Mesmo que parta de um conceito totalmente contrário ao que se estabelece no chapado álbum de 1997, muito do que sustenta o novo disco parece vir diretamente dessa época, com o músico se concentrando na produção de faixas extensas e capazes de brincar com um resultado comercial. Por mais hipnóticas e agradáveis que sejam as composições, não há como negar o quanto o registro carece de tempo para ser apreciado por completo. Headin’ For The Top Now, por exemplo, trafega ao longo de oito minutos por um oceano de referências e experimentos musicais, encontrando apoio tanto na psicodelia sessentista, como em elementos típicos do que o próprio Pierce ajudou a desenvolver em seus projetos.

Enquanto Bobby Gillespie (Primal Scream), Jarvis Cocker (Pulp) e demais artistas que surgiram na mesma época parecem ter perdido o brilho ou simplesmente se acomodaram, Jason não parece em nenhum instante demonstrar cansaço ou mínima falta de inspiração que toma conta dos conterrâneos. Próximo de completar 47 anos – dos quais pelo menos 30 são dedicados à música -, o músico consegue com o novo disco mergulhar em um universo de novos experimentos e renovações, soando tão poderoso, jovial e inventivo quanto fora há duas décadas. Se o “Huh?” que ilustra a capa do disco pergunta sobre até onde vai o trabalho de Pierce, ao final do álbum chegamos à óbvia conclusão: não existem limites para as obras do músico.

Sweet Heart Sweet Light (2012, Double Six)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Spaceman 3, Primal Scream e Mercury Rev
Ouça: Hey Jane, Headin’ For The Top Now e Litlle Girl

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.