Disco: “Talk About Body”, MEN

/ Por: Cleber Facchi 15/02/2011

MEN
Indie Rock/Electro/Pop
http://www.myspace.com/men

 

A ideia até seria bem interessante: membros do Le Tigre se unindo para dar vida a uma nova banda, nesse caso o MEN. Era de se esperar que com o primeiro disco de estúdio fossemos presenteados com uma boa quantidade de hits com a mesma pegada de rock eletrônico aos moldes de Deceptacon, Hot Topic, Fake French e outras faixas que fizeram a carreira das tigresas. Assim que começaram a sair as primeiras canções ainda em 2007 o misto com toques de reggae animava ainda mais, mas eis que veio a estreia e a decepção tomou conta.

Talk About Body (2011) é o nome desse pequeno trabalho que segue sob os comandos de Michael O’Neill, JD Samson, Ginger Brooks Takahashi e que conta com a colaboração de Johanna Fateman e Emily Roysdon na produção das canções e dos espetáculos ao vivo. Na verdade muito do MEN se traduz em uma espécie de performance artística, com direito a exposições que mesclam som e imagem durante as apresentações da banda (que são até boas). O problema está em levar todas essas referências que vão além da música para dentro do estúdio e trabalhar isso em um álbum. Há um claro erro no formato do projeto. Quanto banda, mesmo com suas composições fraquíssimas o grupo até cumpre suas funções. Como performance artístico-cultural a mesma coisa, porém ao compactar isso e traduzir como um disco de rock a coisa parece não fluir direito.

Mas vamos para o disco. Life’s Half Price com seu jeitão meio anos 80 abre com quase um minuto de introdução, tentando apresentar o público às batidas, às guitarras e logo aos vocais da banda. A canção parece com qualquer coisa, menos com uma faixa de abertura. Parece mais com alguma coisa feita para fechar o disco, é parada, muito básica e como a primeira impressão é a que fica, temos aí um péssimo começo. Já circulando há algum tempo Off Our Backs pode de fato ser considerada como a primeira canção do disco. Um roquinho eletrônico desses que você encontra nos discos do CSS ou do The Gossip.

O lado “reggaeiro” da banda começa a aparecer em Credit Card Babies, algo que parece ter saído de algum b-side de artistas da eletrônica dos anos 90. A faixa é até agradável, mas não cumpre com sua principal função: a de ser pop. Chega Boom Boom Boom, que justamente por ser como tantas faixas voltadas para o electro-punk é a única faixa boa até então.

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Hit pegajoso, fácil, inspirado e baladeiro, ou seja, como essa estreia do MEN deveria ser desde a primeira faixa. Pode até copiar em uma pasta separada, pois se as coisas continuarem como na canção seguinte Take Your Shirt Off o resto do álbum pode ir direto para a lixeira.

E por Who Am I to Feel So Free as coisas parece que continuam ruins. Tudo bem que você pode até se divertir em uma ou duas audições, mas nada além disso. A canção parece até uma cópia de Let’s Reggae All Night do álbum Donkey (2008) do CSS. Mas como a banda brasileira sugou um monte do Le Tigre, então nada mais justo, correto? Make It Reverse volta mais uma vez aos anos 80 com seus tecladinhos e guitarras clichê para tentar motivar o ouvinte, que a essa altura já deve ter abandonado o disco ou nem está prestando atenção ao que está ouvindo. A banda tenta até soar séria com Simultaneously, que se não fosse tão longa e tão maçante até que seria agradável.

If You Want Something com aquele baixo funkeado talvez funcionasse melhor se fosse feito pelo Copacabana Club ou inserida em algum trabalho do Red Hot Chilli Pepers, mas nas mãos do trio chega carregada por uma instrumentação básica em que nem os esparsos solos de guitarra ao longo da faixa conseguem animar. Uma dica para essa faixa se tornar mais “suportável” é ouvi-la do meio para frente, dessa forma você curte o melhor momento dela, assim como ela se encerra antes. Rip Off é outra faixa da série “poderia ser melhor”, que parece tomar conta de mais 50% do disco.

O álbum fecha ainda com My Family e Be Like This. Enquanto a primeira soa como alguma coisa roubada do Yeah Yeah Yeahs, por meio das guitarras mais relevantes e dos vocais meio Karen O, a segunda se apoia de vez no lado eletrônico do grupo. Estranho que se essa última é voltada para as pistas, em nenhum momento você se sente convidado a dançar. Talvez seja uma boa para tocar em final de festa, quando o dono do bar/casa noturna quer que o público vá embora. Mas Talk About Body é bem isso, um álbum fraco e que afasta muito mais do que atrai seus ouvintes. Baixe o álbum, salve Boom Boom Boom e delete o resto, você só vai ganhar com isso.

 

Talk About Body (2011)

 

Nota: 4.0
Para quem gosta de: Le Tigre, Cansei de Ser Sexy e Copacabana Club
Ouça: Boom Boom Boom

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.