Disco: “Talvez Hoje Eu Tope Um Plural”, Acidogroove

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2011

Acidogroove
Brazilian/Alternative/Indie
http://www.acidogroove.tnb.art.br/

 

Por: Cleber Facchi

Basta apenas uma única audição de qualquer música anunciada pela banda mineira Acidogroove para percebermos todas suas claras e marcantes referências musicais. Entre guitarras que ecoam a boa fase do Strokes, versos esculpidos com precisão e experiência no melhor estilo Los Hermanos pós-Bloco do Eu Sozinho, além de algumas doses de rock alternativo dos anos 90 que vão aos poucos se acomodando no interior de Talvez Hoje Eu Tope Um Plural (2011, Independente), primeiro álbum oficial do quarteto, que desde idos de 2006 vem elaborando uma carreira consistente e carregada de bons elogios.

Enquanto Fred Pinheiro assume de maneira precisa e límpida tanto os vocais como as eficientes guitarras que permeiam o álbum, um empolgado Leonardo Kopa Fabio Meirelles toma conta do ritmo das faixas, pontuando com sua bateria todas as estratégias a serem desenvolvidas ao longo do disco. Os teclados de Gabriel Mendes por sua vez pintam com delicadeza todos os espaços presentes no disco, fazendo uma óbvia composição com o baixo notável de Cláudio Neto, que surge como uma espécie de corda invisível, feita para amarrar todos os elementos presentes no álbum de maneira hábil e precisa.

Sentimental, porém não sofrido, o disco vai lentamente desenrolando uma coleção de faixas banhadas por um romantismo maduro, algo que tem assumido boa parcela das produções nacionais ao longo dos últimos meses. Partilhando de uma linguagem poética e instrumental que muito remete ao recente Música Vulgar Para Corações Surdos, trabalho de estreia da banda carioca Harmada, o primeiro disco da mineira Acidogroove enverga para a produção de um som mais seco, básico e “roqueiro”, evitando a todo custo a produção de um álbum deveras detalhado, o que de certo modo facilita na hora de absorvermos o disco.

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Mesmo concentrado suas experiências musicais em boa parte da produção nacional e internacional que tomaram conta da música alternativa a partir de início dos anos 2000, uma leve dose de rock menos conceitual é o que acaba separando a “estreia” da banda de outros tantos lançamentos recentes. Talvez pelos pequenos flertes ao rock brasileiro dos anos 80, além das letras profundamente elaboradas, ouvir Talvez Hoje Eu Tope Um Plural remeta quase imediatamente ao primeiro disco dos acreanos do Los Porongas ou mesmo ao recente debut dos paranaenses do Humanish, ambos trabalhos que devem confundir a lógica dos moderninhos de plantão, mas capazes de agradar profundamente aos amantes do velho rock.

Por mais que a instrumentação que movimenta o disco se dissolva ao longo do álbum de forma suficientemente estável e bem explorada, não há como negar que o álbum fica constantemente preso em uma sonoridade demasiadamente básica e até pouco criativa em alguns momentos. O misto de samba com guitarras ascendentes em Júlia em Firmamento, por exemplo, acabam lembrando muito o Los Hermanos do álbum Ventura, onde a profusão de sons remetem de maneira gritante uma versão menos sombria do clássico Cara Estranho.

Mesmo que o elemento principal de todo o disco sejam suas letras – cada composição entrelaça lamentos, saudades e despedidas de forma bastante precisa –, a baixa inventividade musical do álbum acaba por tornar a audição do trabalho redundante em diversos pontos, desmerecendo inclusive algumas belas letras que se abrigam no interior do registro. Contudo, pequenos experimentos como os utilizados em Versos pro Mar Aberto e Carta Ao Amigo (a mais suja do disco) acabam por romper a linearidade do disco, evitando que a banda se afunde em um marasmo sonoro e termine apresentando um trabalho bem desenvolvido, mesmo com suas limitações.

Talvez Hoje Eu Tope Um Plural (2011, Independente)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Harmada, Los Porongas e Los Hermanos
Ouça: Carta Ao Amigo e Recado de Geladeira

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.