Disco: “Tatá Aeroplano”, Tatá Aeroplano

/ Por: Cleber Facchi 30/07/2012

Tatá Aeroplano
Brazilina/Psychedelic/Indie
http://tataaeroplano.com/

Por: Cleber Facchi

Tatá Aeroplano teve um papel fundamental na cena independente que se formou em idos de 2000. Integrante de grupos como Cérebro Eletrônico, Jumbo Elektro e Zeroum, o compositor é autor de algumas das maiores criações da música nacional no novo século, sendo um dos responsáveis pela expansão do cenário paulistano que hoje se consolida com uma variedade de influentes artistas. Entretanto, ao mesmo tempo em que transita como uma personalidade de destaque e relevância dentro do cenário independente, o músico se mantém como um ser distante do grande público, retrato quase óbvio de grande parte dos artistas surgidos ao longo da última década e que transitam constantemente entre o underground e mainstream.

Flutuando nessa mesma divisão de conceitos, porém, parcialmente distante de todo o cenário que ajudou a estabelecer, Aeroplano encontra no refugio de seus próprios sentimentos, angustias e memórias a matéria base para o lançamento do primeiro disco solo. Afastado dos parceiros de banda que há tempos o acompanham ou da variedade instrumental que sempre delimitava suas músicas, o cantor se permite passear livremente pelo sexo, os abusos com as drogas, as melancolias e principalmente pela cidade de São Paulo, estabelecendo em referências estritamente particulares a engrenagem que movimenta os mais de 45 minutos do registro que carrega o próprio nome.

Em virtude dessa necessidade de se transformar na figura central do trabalho, por vezes algumas das composições refletem um desempenho e um lirismo peculiar que parece compreendido exclusivamente pelo músico. Logo, não são poucos os casos em que Aeroplano se materializa de forma voluntária em personagens libertinos (Night Purpurina), figuras sorumbáticas (Cão Sem Dono) e seres típicos de um cotidiano doloroso (Uma Janela Aberta). Tudo se volta à ele, mesmo que algumas das canções descrevam com detalhes personagens particulares – como na faixa de abertura, Satriana -, o trabalho tende inevitavelmente a flutuar em torno da vida e do universo que definem o artista.

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Por vezes – principalmente quando se apega em excesso à psicodelia -, Tatá incorpora o que parece ser uma interpretação jovial de Júpiter Maçã, resultado que se reflete tanto na sonoridade calcada no rock psicodélico dos anos 70 como nas letras suavizadas que permeiam o trabalho. É como se o músico assumisse um braço doloroso do lisérgico A Sétima Efervescência (1997), estreia solo de Maçã e um dos marcos do rock psicodélico tupiniquim. Moderno, o presente álbum costura ao mesmo tempo referências tipicamente paulistanas, trazendo em passeios pela Rua Augusta e no tom acinzentado que preenche a cidade a principal marca das canções. É como se para além dos limites individuais do músico, o álbum fosse uma imensa ode à capital paulista, aspecto que percorre ameno toda a extensão da obra e a afasta do tom bucólico do trabalho de Júpiter Maçã.

Delimitado por versos de natural agrado, o disco permite que faixas como Te Desejo Mas Te Refuto e Uma Janela Aberta (com participação de Bárbara Eugênia) escorram suavemente, fluindo a um tempo próprio. Dentre desse caráter de calmaria, Aeroplano cobre todas as arrestas do álbum, que soa de forma distante dos anteriores projetos do artista – mesmo do próprio Cérebro Eletrônico. A variedade de acertos, contudo, não conseguem esconder o desagrado que é Par de Tapas que Doeu em Mim. Enorme (são mais de 10 minutos de duração), a faixa arrasta o ouvinte para a entediante (e agressiva) relação de um casal, história que poderia ser facilmente resolvida em curtos segundos, mas se arrasta de forma descritiva e até tola naquele que é o momento mais desgastante de todo o trabalho.

Se a tentativa (falha) de Tatá Aeroplano em lançar a estreia solo via sistema de Croudfunding há alguns meses atrasou a entrega do álbum, o tempo maior em estúdio ao lado dos produtores Dustan Gallas e Junior Boca permitiu que o músico cobrisse todas as falhas do trabalho. Ora próximo de Arnaldo Baptista (da fase Singin’ Alone), ora explorando um lado oculto do que havia trabalhado dentro do disco Deus e o Diabo no Liquidificador (último registro do Cérebro Eletrônico), Aeroplano estabelece um caminho próprio, que entre teclados nostálgicos e exaltações delicadas prendem e estimulam naturalmente o ouvinte durante toda a execução da obra.

Tatá Aeroplano (2012, Independente)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Cérebro Eletrônico, Bonifrate e Júpiter Maçã
Ouça: Te Desejo Mas Te Refuto e Uma Janela Aberta

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.