Disco: “Terra”, Julian Lynch

/ Por: Cleber Facchi 27/04/2011

Julian Lynch
Lo-Fi/Folk/Experimental
http://julianlynch.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Julian Lynch parece estar no meio de uma grande febre criativa que já dura mais de três anos. Depois de alcançar um ótimo resultado em 2010 com o disco Mare, através de suas experimentações lo-fi quase jazzísticas, o músico norte-americano volta com mais um difícil e encantador trabalho: Terra (2011). Utilizando-se das mesmas nuances empoeiradas de seus dois trabalhos anteriores – o primeiro é Orange You Glad, de 2009 – o compositor mostra que de sua cabeça ensandecida escapam alguns dos mais belos acordes da música folk contemporânea.

Assim como nos dois registros anteriores, a atual obra de Lynch não encontra barreiras durante o seu desenrolar. Tudo é musica dentro do novo álbum, que contabiliza desde arranjos detalhados de violão, até a inclusão de instrumentos de sopros, teclados, uma percussão cuidadosa ou mesmo pequenos e quase imperceptíveis ruídos instrumentais. Em dez faixa, Julian conta histórias de lamentos, algumas delas nonsenses, ou que se abrigam uma uma fina camada de psicodelia, digna de qualquer trabalho do músico.

Entretanto, diferente dos dois primeiros registros de Lynch, Terra soa como um trabalho mais acessível e consequentemente mais límpido. Claro que as experimentações e a forma com que o músico se entrega as suas suaves camadas de sons, ainda estão lá. A diferença está na tonalidade menos opaca com que as canções são trabalhadas, afastando um pouco o aspecto sombrio de outrora, em busca de um som levemente ensolarado e que facilmente encaminha o ouvinte para dentro de um terreno bucólico, naturalista, porém longe das aspirações hippies.

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Se no decorrer de Mare, Lynch se aconchegava em uma sonoridade voltada ao jazz, com Terra, as canções se definem facilmente dentro de uma atmosfera folk, onde os pequenos temperos de psicodelia orientam e dão forma ao trabalho. A instrumentação, anteriormente curvada ao uso de violões rebuscados, vocais modulados e incontáveis colagens de sons, agora reverberam novas acústicas, sendo o uso de uma percussão minimalista, porém eficiente, o principal destaque do presente trabalho.

Embora se mantenha conciso ao longe de suas dez faixas, o novo disco de Julian Lynch acaba facilmente evidenciando algumas repetições, fruto mais do que natural do lançamento de uma tríade de trabalhos em três anos consecutivos. Faixas como Water Wheel One, por exemplo, agarram fáceis referências do último LP do compositor, tornando o disco em determinados momentos repetitivo. O inventivo uso de teclados, tanto em Canopy como em Ground, ou em outras faixas fazem com que o evidenciado desgaste acabe passando de maneira despercebida, dando ao disco certo toque de ineditismo.

Mesmo que o trabalho excessivo de Lynch comece lentamente a apresentar pequenos desgastes ou a demonstrar as formulas alcançadas pelo músico, Terra se manifesta muito mais por seus acertos do que por seus erros. Mais uma vez o músico prova ser um exímio construtor de sonoridades ambientais, em que seus bem aplicados detalhamentos e sonorizações abraçam o ouvinte em confortáveis texturas musicais.

Terra (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de:Real Estate, How To Dress Well e Beach House
Ouça: Canopy

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.