Disco: “The A&R EP”, Annie

/ Por: Cleber Facchi 31/07/2013

Annie
Electronic/Pop/Dance
http://anniemelody.com/

Por: Cleber Facchi

Annie

O pop funciona em uma medida curiosa nas mãos da norueguesa Annie. Dona de um dos trabalhos mais influentes da última década – o clássico Anniemal (2004) -, e inspiração para a avalanche de artistas recentes, que incluem Icona Pop e Charli XCX, a cantora rompe o hiato de quatro anos para reocupar um posto de destaque na música pop. Em relativo silêncio desde que apresentou ao público o mediano Don’t Stop (2009), a artista se encontra com o velho colaborador, o britânico Richard X, para arquitetar o que deve crescer no próximo registro de estúdio. Antes disso, uma parada no ambiente acolhedor de The A&R EP (2013, Pleasure Masters).

Mais recente trabalho da cantora, o novo registro desenvolve em apenas cinco faixas uma natural extensão do universo criativo imposto há quase uma década. São encaixes eletrônicos de movimentação leve, vozes brandas e um delicioso acerto pop que parece perfumado pela década de 1990. Com um pé na eletrônica e outro em melodias de efeito comercial, o álbum cresce até o último instante em uma composição de limites automáticos, mas de imposição ainda assim pegajosa. O mesmo “pop alternativo” que uma centena de novas vozes tentam repetir há tempos, mas que Annie assume com maturidade.

Responsável pela produção de alguns dos maiores sucessos da artista – entre eles Chewing Gum e Me Plus One -, Richard X assume um papel bem delimitado no decorrer do presente registro. Longe da função de mero acompanhante, é ele quem dita as regras do trabalho, fornecendo todo o subsidio musical para as faixas que alimentam a pequena obra. Ao passo que em Annimal a sonoridade parecia impulsionada pelo pop e depois adornada pela eletrônica, a partir de Don’t Stop é visível um efeito de oposição. Em The A&R toda essa relação parece visivelmente bem resolvida, esforço que o produtor enquadra em uma medida de pleno diálogo conceitual.

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Partindo de onde parou há quatro anos, e ainda assim buscando pelo invento, Back Together abre o EP em uma medida de calmaria e crescimento. Um espaço para que a voz pueril da cantora se movimente de forma atenta, como se buscasse um lugar para conforto. Herdeira dos inventos acumulados em 2004, a canção explora aspectos muito próximos daqueles impostos por Sally Shapiro em Somewhere Else (2013), impondo um cruzamento leve com a Italo Disco, porém, sem fugir dos limites previamente incorporados e seguidos até o fechamento da tímida Hold On.

Se a abertura do trabalho preza pelo cuidado e delicadeza dos sons, a partir de Ralph Macchio o EP floresce. Homenagem graciosa ao ator que interpretou Daniel Larusso no clássico Karate Kid – por quem Annie foi apaixonada na infância -, a canção flutua entre a eletrônica e o pop em acertos típicos da obra da norueguesa. Crescente, a faixa garante as bases para o que brilha de forma intensa na composição de Invisible, música seguinte e melhor composição do álbum. Carregada pelas batidas, a canção mostra de fato à que veio a dupla, incorporando um esforço cada vez mais sintético ao trabalho, que finaliza de forma próxima com Mixed Emotions.

Longe de parecer um mero aquecimento ou possível ponto de construção entre um trabalho e outro, The A&R surge como uma obra fechada e conceitualmente bem definida dentro da trajetória da artista. Cada faixa encaixada pelo disco parece servir de escada para a música seguinte, transformando os poucos instantes do trabalho em um reduto natural de acertos para a obra de Annie. Já era hora de voltar, e a cantora encontrou o caminho certo para isso.

Annie

The A&R EP (2013, Pleasure Masters)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Sally Shapiro, Charli XCX e Robyn
Ouça: Invisible e Ralph Macchio

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.