Disco: “The Baggios”, The Baggios

/ Por: Cleber Facchi 11/07/2011

The Baggios
Brazilian/Blues Rock/Alternative
http://www.myspace.com/baggios

 

Por: Cleber Facchi

Blues Rock em um país em que garotos cabeludos desfilam com camisas do Led Zeppelin, conhecendo apenas Starway To Heaven. Um lugar onde Eric Clapton ainda é o símbolo máximo de roqueiros cinquentões. Local onde The White Stripes é uma banda de um só hit e The Black Keys, quem são eles mesmo? O terreno preparado para a dupla Julio Andrade (Guitarra e Voz) e Gabriel Carvalho (Bateria) em sua estreia tinha tudo para dar errado ou no mínimo resultar em algo o mais clichê possível, entretanto, não é isso que se encontra ao longo do primeiro álbum de estúdio do duo, lançado sob a alcunha de The Baggios.

“As coisas não tão dando certo pra mim”, despeja a dupla original de São Cristovão, Sergipe logo na abertura do registro. Um erro. As coisas estão dando certo para vocês, sim. Colecionando 14 faixas e chegando ao público sob a proteção do selo Vigilante, a homônima estreia do duo sergipano é uma sucessão de acertos, mais de uma dezena de faixas engolidas pelo peso das guitarras e uma bateria que não precisa de descanso em nenhum momento. Cru, enérgico e se desvencilhando dos erros, o autointitulado registro brilha tanto pela instrumentação ferrenha, que insiste em sacudir o ouvinte de segundo em segundo, quanto pelas letras, arquitetadas para arremessar o ouvinte contra todas as direções.

Embora soe extremamente próximo daquilo que Dan Auerbach e Patrick Carney do The Black Keys vem desenvolvendo ao longo de seus trabalhos, a estreia do The Baggios se distancia cuidadosamente das redundâncias que tomam de assalto boa parte dos grupos de blues rock nacionais, bandas que parecem presas em um lapso temporal que vai do final dos anos 60 até meados da década de 1970. Não que a dupla de Sergipe deixe de honrar suas raízes nos sons do Cream, Muddy Waters e Led Zeppelin, apenas usa dessas influências a seu favor, como referências, e não como mecanismo para cópia.

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The Baggios (o disco) parece um trabalho construído através das mãos de dois garotos, uma dualidade de compositores que tocam, cantam e compõem carregados por uma força jovial e ao mesmo tempo adulta. Quando ecoam os primeiros acordes de Oh Cigana (que involuntariamente lembra a versão de Conquest feita pelo The White Stripes), Aqui vou eu (um misto de Raul Seixas com The Who) ou quem sabe Morro da Saudade (com participação de Hélio Flanders do Vanguart) torna-se visível o quanto o trabalho é feito com esmero, como se a dupla, ao mesmo tempo honrando suas principais fontes de inspiração, também buscassem por trazer algo de novo ao meio em que estão inseridos.

Mesmo que o registro flua de maneira a não ser contido, os momentos em que o duo se arrisca a cantar em inglês fazem com que o álbum derrape e percorra um caminho visivelmente desnecessário. Nada do que é exposto em You Never Walk Alone, Get Out Now e Josie Magnolia traz algum tipo de novidade, fazendo com que a dupla (dessa vez sim) se limite a soar como uma mera cópia de suas grandes referências. Entretanto basta voltar ao som de Quanto mais eu Rezo, que para além dos belos acordes de Andrade e da bateria furiosa de Carvalho abrem espaço para a chegada de um vasto naipe de metais, resultando naquela que é uma das melhores, se não a melhor faixa do disco.

Em sua totalidade, o debut do The Baggios soa exatamente como deveria ser: um trabalho de estreia. Carregado de acertos (e também alguns erros), o disco evidencia a figura de dois indivíduos vislumbrados com a possibilidade de fazer música, não apenas com o intento de ganhar dinheiro e fazer sucesso, mas de se divertir e entregar boa composições a seus ouvintes. Longe dos clichês de quem brinca com o blues rock, a dupla viabiliza um registro que toma fôlego na faixa de abertura e só parece descansar nos segundos finais de sua última canção.

The Baggios (2011, Vigilante)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: The Black Keys, Vanguart e Charme Chulo
Ouça: Aqui vou eu e Meu Eu

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.