Disco: “The Big Dream”, David Lynch

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2013

David Lynch
Experimental/Alternative/Electronic
http://davidlynch.com/

 

Por: Fernanda Blammer

David Lynch

Quem entendeu Crazy Clown Time (2011) como um exercício passageiro de David Lynch pelo mundo da música – possivelmente antes das gravações de um novo filme -, verá no percurso sombrio de The Big Dream (2013, Sacred Bones) que o interesse do cineasta pela música é constante. Mais uma vez brincando com as ferramentas instrumentais apresentadas há dois anos, o diretor de películas complexas como Blue Velvet (1986) e Mulholland Drive (2001) mostra que a estranheza de sua obra não se concentra apenas nas imagens que o rodeiam, mas também nos sons que volta a proclamar.

Novamente acompanhado pelo músico e produtor Dean Hurley, que assim como no último registro em estúdio ajuda a esculpir os rumos instrumentais da obra, Lynch usa do presente trabalho como uma tentativa de expandir o território conceitual que o cerca. De apelo naturalmente soturno, o disco navega em uma medida curiosa entre a eletrônica sublime e o garage rock, arrastando o ouvinte para diferentes territórios sem necessariamente fugir de um ambiente já definido em essência. Todavia, longe de qualquer conforto musical, o álbum encontra no experimento o único ponto de referência para a dupla.

Por mais que as guitarras sujas e a bateria de atmosfera eletrônica sejam as bases para cada uma das faixas do disco, isso é apenas um princípio para a composição que alimenta The Big Dream. Oculto em uma névoa sintética, a voz de Lynch parece guiar o ouvinte por entre um labirinto de sons e experiências sempre mutáveis, tímidas em alguns aspectos, porém, longe de qualquer obviedade. Musicalmente melhor resolvido que o último disco, o trabalho cresce em virtude das letras amargas do cantor, encontrando na trama sombria um sustento natural para a lírica solitária da obra.

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Quando resolve apelar para as guitarras, como em Star Dream Girl, Lynch e o parceiro encontram um meio termo coeso entre as experiências de Dirty Beaches e os sons plásticos de Jack White. Exercício seguido na estrutura de Sun Can’t Be Seen No More e Say It, o trabalho parece viajar até o começo da década de 1950, encontrando em ensaios formatados do blues uma identidade maior do que a estabelecida no disco passado. É como se Lynch representasse um personagem de suas próprias obras, surgindo misteriosamente em um palco escuro, como aquele apresentado nos primeiros episódios de Twin Peaks.

Em um sentido de oposição e ainda assim continuidade para a obra, ao se aprofundar nas emanações obscuras da eletrônicas, a dupla não apenas garante sequência ao disco de 2011, como incorpora um senso de novidade. Ao passo que a primeira metade do álbum traz faixas resumidas em uma estética torta (vide Last Call), a partir de The Line It Curves, o teor eletrônico da obra passa a se aproximar do Dream Pop e outras referências etéreas. O resultado de todo esse agregado está nas camadas densas de Are You Sure, canção que ao ser encaixada com a faixa bônus, I’m Waiting Here (com vocais assumidos por Lykke Li), revela o lado mais criativo do disco.

Sem qualquer esforço de abertura para o ouvinte habituado ao uso de sons acessíveis ou minimamente comerciais, The Big Dream usa das pistas deixadas em Crazy Clown Time como um instrumento de desconstrução e estranheza. Inclinado ao desconforto, o registro manifesta o esforço claro de David Lynch e Dean Hurley em estabelecer uma série de regras para que o trabalho jamais facilite ao espectador, ouvinte que estranhamente parece preso ao cenário proposto pela dupla.

 

David Lynch

The Big Dream (2013, Sacred Bones)

Nota: 6.7
Para quem gosta de: oOoOO, Dirty Beaches e Angelo Badalamenti
Ouça: Star Dream Girl, Sun Can’t Be Seen No More e I’m Waiting Here

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.