Disco: “The Bones of What You Believe”, CHVRCHES

/ Por: Cleber Facchi 06/09/2013

CHVRCHES
Indie/Synthpop/Electronic
http://chvrches.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

CHVRCHES

Em março, quando Recover EP foi oficialmente apresentado ao público, brincar com o pop, conquistar notoriedade e preparar o terreno para uma obra maior parecia ser a base do trabalho do CHVRCHES. Cada vez mais conscientes da própria sonoridade, Lauren Mayberry, Iain Cook e Martin Doherty transformaram o curto registro em uma evolução clara aos inventos previamente testados, resgatando o já gasto Synthpop e em uma massa de sons coloridos tomados pela novidade. Se as três pequenas faixas do curto álbum eram um prelúdio, então The Bones of What You Believe (2013, Virgin/Glassnote) chega como a confirmação: o pop nas mãos do trio britânico tem outro significado.

De Kate Bush ao Depeche Mode, de Prince ao trabalho da sueca Robyn, décadas de referências melódicas (coloridas ou sombrias) parecem diluídas dentro do catálogo de sintetizadores que acompanham a obra do trio. Poderia ser apenas mais uma overdose de sons plásticos e descartáveis – como tantos outros artistas próximos -, mas apenas não é. Seja pela arquitetura inteligente de Cook e Doherty ou a voz acessível de Mayberry, seja pelo teor dançante dos arranjos ou o caminho crescente de harmonias, passear pela obra do CHVRCHES é como esbarrar em algum típico exemplar da música pop atual, com a diferença de as canções parecem projetadas a durar mais do que uma estação.

CHVRCHES

Claro que parte expressiva desse resultado de acerto não está exclusivamente nos sons, mas nos versos. Longe da rima fácil ou da simplicidade fabricada, cada canção apontada pelo trio discute abandono, saudade, medo e confissão em um lirismo que ultrapassa o comum. Em um teor amargurado, músicas como Recover, Lies e By The Throat parecem fluir em uma noite de tormento e desespero, como se a solidão e a mente vazia fervilhassem sentimentos ruins. O mais curioso disso tudo talvez seja perceber o quanto esse alinhamento dramático se faz nosso, como parte inevitável do ouvinte. Canções de complexidade visível, mas que não pulam a proposta básica de cativar o público até o último segundo.

O que talvez distancia o CHVRCHES de outros grupos de sonoridade próxima é a capacidade do trio em arquitetar os versos e comunhão aos sons. Seja no teor crescente de The Mother We Share, na abertura do disco, ou You Caught The Light, canção que finaliza a obra, tanto a voz como a lírica parecem trabalhados de forma a impulsionar os arranjos, como se os sintetizadores nunca existissem como base, apenas complementos. Recover, por exemplo, trata disso com tanta propriedade que todo o acabamento sonoro parece liberado a fluir apenas de acordo com os vocais, baixando quando a voz de Mayberry cessa. Outras como Night Sky e Lungs assumem um efeito ainda mais curioso, aproveitando de samples da vocalista em uma sequência de pequenas colagens instrumentais.

CHVRCHES

Catálogo crescente de faixas radiofônicas, The Bones of What You Believe acumula até o último instante uma sequência de músicas praticamente entregues ao grande público. Por mais doloroso que seja o contexto poético de By The Throat, Gun e demais canções apresentadas ao longo do registro, compreender o trabalho do CHVRCHES sem enxergar o verniz pop que o sustenta é praticamente impossível. O trio, a exemplo de Robyn, Annie e outros artesões da música pop – principalmente em solo nórdico -, faz tudo isso sem cair em redundância, desenvolvendo o álbum em uma atmosfera homogênea, mas de rumo específico em cada faixa.

Além da beleza óbvia que arrasta as composições do disco, ao estrear o trio finaliza uma obra que se apresenta pronta para diferentes rumos, como se entregasse pistas claras do que ainda está por vir. São pequenas ambientações ampliadas, vozes que raspam na experimentação, além de um entendimento curioso dos sons que parecem perverter o pop em uma atmosfera particular. The Bones of What You Believe é sim um típico exemplar do que há de mais radiofônico e jovial no cenário recente, um produto evidente da música pop, mas que se veste com maturidade.

 

CHVRCHES

The Bones of What You Believe (2013, Virgin/Glassnote)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Kate Boy, AlunaGeorge e Charli XCX
Ouça: The Mother We Share, By The Throat e Night Sky

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.