Disco: “The Bravest Man in the Universe”, Bobby Womack

/ Por: Cleber Facchi 30/05/2012

Bobby Womack
Soul/Funk/R&B
http://bobbywomack.com/

Por: Cleber Facchi

O grande acerto de Gil Scott-Heron quando este renasceu das cinzas em meados de 2010, com o inédito I’m New Here, não estava na força do artista em se deixar conduzir por velhos ensinamentos criados por ele próprio no começo da década de 1970, mas por permitir que uma soma de novas referências se apoderasse de sua música. Seja ao regravar o norte-americano Bill Callahan, samplear Kanye West, se aproximar de Damon Albarn ou posteriormente lançar um registro em parceria com o jovem Jamie XX, a aproximação com a nova geração de músicos foi necessária para que o poeta não fizesse do aguardado retorno um completo fracasso.

Adepto dessa mesma proposta e ciente da necessidade de renovação, Bobby Womack transforma o recente The Bravest Man in the Universe (2012, XL) em uma espécie de reestreia. Um trabalho definitivo para se aproximar de toda uma nova geração de ouvintes que sequer conhecem ou mesmo ouviram falar da carreira do veterano. Ícone da música negra norte-americana, o artista transforma o novo disco em mais do que um retrato contemporâneo e particular da soul music, afinal, como uma resposta irônica ao título do último álbum de inéditas lançado há 18 anos, Ressurection (1994), Womack assim como Scott-Heron parece de fato ressuscitar musicalmente com o renovado disco.

Embora parta de uma sonoridade levemente oposta ao que fora explorado pelo falecido compositor em 2010 – que aparece na música Stupid Introlude -, quanto mais The Bravest Man… se desenvolve, mais as conexões com I’m New Here se tornam evidentes. Seja pela produção de Damon Albarn e Richard Russell (também responsáveis pelo resgate, produção e lançamento do último disco de Scott-Heron) ou pela aproximação com artistas da nova geração, como Lana Del Rey na ótima Dayglo Reflection, a todo o momento o norte-americano de Cleveland, Ohio cria elementos que fazem do presente álbum um registro quase irmão da obra final do músico de Chicago.

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Enquanto Scott-Heron brincava com os experimentos, flertando com a música folk, o blues, o soul e até com o jazz, em nova fase Womack se deixa conduzir por elementos típicos da música eletrônica e do trip-hop. O tempero é necessário para que os tradicionais subsídios do soul e do funk ganhem novo enquadramento e vivacidade, transformando de forma crescente o novo registro. Dessa forma, o músico vai aos poucos abandonando o toque intimista de composições como Please Forgive My Heart (uma das melhores canções do ano) e Deep River, posicionadas na abertura do disco, para estabelecer bases dançantes que se ampliam no fechamento do álbum.

Distante de soar como um mero e lucrativo retorno, em The Bravest Man in the Universe vê-se a necessidade do cantor e compositor que aos 68 anos insiste e entende a necessidade de inovar e experimentar. Basta assistir ao making of do trabalho (vídeo acima) para perceber o constante bom humor e a jovialidade que se abate sobre Womack, figura que ainda acredita no amor (Love Is Gonna Lift You Up), sabe como se declarar de forma confessional (Sweet Baby Mine) e se deixa mergulhar nas melancolias típicas de um adolescente (If There Wasn’t Something There).

Em um cenário onde o R&B e a soul music se misturam a outros ritmos e tendências, a presença de Bobby Womack ecoa de forma necessária e coerente com o que está em constante transformação no panorama atual. Longe de soar feito um artista desorientado – como boa parte dos veteranos que tentam se reerguer passadas décadas de ostracismo –, o norte-americano segue o exemplo de Wanda Jackson, que encontrou Jack White, da própria Gal Costa, além, claro, de Scott-Heron: músicos que encontraram no apoio dos jovens uma forma inteligente de trazer de volta os mesmos ensinamentos e sons criados por eles no passado. Womack, entretanto, vai além disso, fazendo do presente trabalho uma espécie de inédito e jovial debut.

The Bravest Man in the Universe (2012, XL)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Gil Scott-Heron, Sly & The Family Stone e Marvin Gaye
Ouça: Please Forgive My Heart

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.