Disco: “The Catastrophist”, Tortoise

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2016

Tortoise
Experimental/Alternative/Electronic
http://www.trts.com/

São mais de duas décadas de carreira e um bem-sucedido catálogo de obras que passeia pelo jazz (T.N.T.), pós-rock (Millions Now Living Will Never Die) e música eletrônica (Beacons of Ancestorship) de forma sempre provocativa, curiosa. Um constante ziguezaguear de referências que faz de The Catastrophist (2016, Thrill Jockey), primeiro álbum do Tortoise depois de um intervalo de sete anos, a base para um possível novo universo de descobertas instrumentais.

Trabalho de “reencontro”, o disco de 11 composições inéditas, sétimo na discografia da banda, parece pensado como um resumo torto de todo o vasto acervo de canções produzidas nos últimos 20 anos. Uma propositada ausência de linearidade que faz com que o ouvinte se pergunte em diversos momentos: “O que está acontecendo? O que o Tortoise está tentando me mostrar?”.

Salve a linha de sintetizadores que amarra músicas como Gopher Island, Gesceap e a própria faixa-título, durante toda a audição, The Catastrophist reforça a sensação de que o grupo – hoje formado por Dan Bitney, Doug McCombs, Jeff Parker, John Herndon e John McEntire – aponta para todas as direções. Em faixas como a climática Shake Hands With Danger, um acerto, resgatando parte da essência musical da banda. Já outras como Rock On, a permanente sensação de desconforto, como se o grupo emulasse o trabalho de outros artistas.

Mesmo que toda a discografia da banda seja planejada em cima de ondulações instrumentais propositadamente instáveis, em The Catastrophist o grupo parece simplesmente perdido, sem saber exatamente que direção seguir. Isoladas, cada canção parece seguir um caminho próprio. Não existem amarras ou estímulos que orientem com segurança o ouvinte até os instantes finais do disco. Todos os elementos se perdem em diversas curvas bruscas que o quinteto assume ao longo do caminho.

The Catastrophist é uma obra de boas composições avulsas. Faixas produzidas pela banda em diferentes períodos de tempo nos últimos sete anos. Difícil não lembrar de The Velvet Underground em Yonder Blue, uma das raras canções em que a banda explora o uso da voz – parceria com Georgia Hubley do Yo La Tengo. Em The Clearing Fills, uma rápida passagem pela temática “jazzística” do grupo nos anos 1990. Com Gesceap, uma espécie de ponte para o mesmo arsenal eletrônico de It’s All Around You (2004) e Beacons of Ancestorship (2009).

Longe de parecer uma completa decepção, The Catastrophist se projeta como um registro de momentos e pequenos acertos. É difícil não se encantar pela derradeira At Odds With Logic ou diferentes faixas “isoladas” no interior do trabalho. Trata-se de uma obra de possibilidades, como se o Tortoise lentamente limpasse a casa, preparando o terreno para o lançamento de um álbum talvez maior.

 

The Catastrophist (2016, Thrill Jockey)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: The Sea and Cake, Mogwai e Battles
Ouça: Gesceap, The Clearing Fills e Yonder Blue

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.