The Cigarettes
Brazilian/Indie/Lo-Fi
http://mmrecords.com.br/cigarettes/
Por: Cleber Facchi
Marcelo Colares demorou quase duas décadas para lançar o melhor e mais completo registro à frente de sua banda “particular”, o The Cigarettes. Criado pelo músico em 1994, o projeto é ao lado de bandas como Pelvs, Second Come, e Astromato um dos grandes representantes do rock alternativo que invadiu a cena carioca e paulistana no começo da mesma década. Uma surpreendente e inspirada onda de artistas que ajudaram a estabelecer importantes características e marcas ao panorama local, cenário que mais tarde ganharia visível força, estrutura, um selo próprio (Midsummer Madness) e definiria de vez o que ainda hoje é compreendido como os primeiros anos do indie rock em solo tupiniquim.
Mais do que um retorno do artista de Itaperuna – que desde o álbum All Is Well (2005) não lança um novo álbum completo -, o homônimo trabalho serve como um brilhante cartão de visita de Colares para toda uma nova geração de ouvintes. É como se o compositor ocupasse cada uma das 11 canções do presente disco de forma a se apresentar pela primeira vez a um inédito e desconhecido público. Ouvintes tecnicamente preparados pelas recentes distorções proclamadas por grupos como Yuck, Cloud Nothings e The Pains Of Being Pure At Heart, uma nova frente de bandas que de uma forma ou outra parecem estar em sintonia com a proposta do veterano músico carioca.
Embora alguns fios de cabelo branco tenham surgido na cabeça do artista e muito tenha se transformado desde que os primeiros registros do músico foram lançados em idos de 1994 (ainda em fita K-7), as bases que definem as composições do The Cigarettes permanecem felizemente as mesmas. Das distorções nostálgicas proclamadas por The Jesus and Mary Chain e My Bloody Valentine, passando pela sutileza das vozes que preenchem os iniciais registros do Teenage Fanclube – principalmente na fase Bandwagonesque -, tudo parece inalterado nas sempre cativantes músicas do cantor, que ao alcançar o terceiro registro oficial não apenas revive estes experimentos como os aprimora.
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Construído com parcimônia ao longo de quatro anos, o registro passou quase metade desse tempo nas mãos de Gustavo Seabra, guitarrista e vocalista da banda Pelvs que tratou de produzir e mixar o que hoje pode ser compreendido como o novo álbum do Cigarettes. Trabalho mais polido e bem planejado de Colares – que em 2010 deu uma prévia do registro com o lançamento do EP Happiness, Glory and Calmness -, o álbum mergulha nas melancolias e recortes cotidianos do cantor, que assim como nos primeiros trabalhos usa de sua poesia como um instrumento de aproximação, convertendo histórias particulares e doces desilusões em tratados líricos que bem se relacionam com qualquer ouvinte.
Mais do que um registro de conexão entre a música do passado e as presentes gerações de ouvintes, a polidez do álbum acaba por revelar um artista renovado e parcialmente inédito, mesmo àqueles que há tempos acompanham o trabalho do carioca. É como se longe das densas camadas de distorção e ruídos involuntários que impregnavam as antigas e artesanais composições do músico fosse possível encontrar e estabelecer uma relação um compositor raro, um artista que se deixa consumir por doses leves de psicodelia (Time To Go) e pequenas aproximações com o pop (We Are Alone e Older) sem jamais esquecer das guitarras enevoadas que lhe garantiram mínimo destaque no passado.
Em tempos de distorção no rock alternativo, com bandas como The Sorry Shop, Subburbia e Single Parents assumindo as rédeas dessa proposta, o retorno do The Cigarettes não apenas se revela como um feito essencial, como traz de volta uma série de referências e ensinamentos talvez esquecidos por estes recentes grupos. É como se Marcelo Colares, além de garantir subsídios e inspiração para toda uma presente geração de ouvintes e novas bandas fizesse desse retorno uma espécie de benção, estabelecendo uma sólida conexão entre o rock independente proposto há duas décadas e aquilo que predomina na cena atual.
The Cigarettes (2012, Midsummer Madness/Locomotiva)
Nota: 8.3
Para quem gosta de: Pelvs, Pavement e Teenage Fanclub
Ouça: Conected Overused, Time To Go e Pothead
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.