Disco: “The Drop Beneath”, Eternal Summers

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2014

Eternal Summers
Indie/Alternative/Dream Pop
http://eternalsummers.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Eternal Summers

Cada passo dado pelo Eternal Summers faz da sonoridade assinada pela banda um campo de possibilidades abrangentes, naturalmente maduras, mas em nenhum momento distantes da jovialidade imposta no primeiro disco. Em um sentido de continuação ao exercício proposto em 2012, com a apresentação de Correct Behavior, segundo trabalho em estúdio do (hoje) trio, The Drop Beneath (2014, Kanine) aproxima as melodias garageiras do grupo de um novo resultado. Uma comunicação entre o desprendimento pop e a essência sóbria que guia as canções da banda desde o primeiro acorde.

Distante e ainda assim próximo da essência assumida em Silver (2010), quando Nicole Yun e Daniel Cundiff produziam individualmente a sonoridade do grupo, o novo álbum substitui o acabamento Lo-Fi de outrora por uma obra alimentada pelos detalhes. São 11 composições inéditas, músicas que ainda atravessam o litoral melancólico proclamado pelo duo em começo de carreira, mas que autorizam a prova de um conjunto de novas essências, delicada massa instrumental que se revela logo na abertura do disco, com 100, e se estende até a derradeira (e extensa) faixa-título.

Com uma presença ainda maior do que no trabalho anterior, o baixista Jonathan Woods assume uma posição de fina essência no decorrer da obra, desenvolvendo imensas camadas de alinhamento climático para a formação das músicas. Longe de apenas consolidar um plano de fundo denso, a linha de baixo sustentada por Woods pavimenta uma sólida escadaria para as guitarras de Yun – cada vez menos previsível e íntima de um conjunto abrangente de possibilidades. Enquanto o álbum de 2012 era uma versão encorpada do álbum de estreia, com o novo disco a banda vai além.

A comunicação com a década de 1980, antes reservada aos instantes finais do disco anterior, agora percorre todo o novo disco. São arranjos de acabamento sutil, distorções que se espalham confortavelmente no interior das faixas e uma curiosa interpretação do Dream Pop apresentado por pequenos gigantes como Galaxie 500 e Mazzy Star. Desenvolvido com parcimônia, o disco parece crescer dentro de um ambiente próprio, como se todo o conjunto de referências lançadas há dois anos fossem interpretadas em um cenário essencialmente detalhista, em uma medida própria de tempo.

Seguindo a lógica pacata que abastece todo o trabalho, The Drop Beneath se esquiva durante todo o tempo de músicas emergenciais, como Millions e Wonder do disco passado. Mesmo que canções como A Burial e Gouge atentem para uma sonoridade bastante similar, a busca pela construção de camadas instrumentais e doses consideráveis de ruídos aproximam o trio de um novo cenário. Este constante cruzamento entre batidas velozes e arranjos aveludados segue com maior atenção na segunda metade do álbum, quando Not For This One, faixa cantada por Cundiff, abre as portas para o universo sombrio da banda. Instantes que beiram a psicodelia (Deep End) e abraçam completamente a suavidade das formas (Until the Day I Have Won).

Ao mesmo tempo em que cresce como uma obra pontuada pela segurança dos arranjos, vozes e versos – cada vez mais pessoais e ainda íntimos do público -, The Drop Beneath é uma obra que assume a inquietação da banda. Enquanto o disco passado parecia confortado como um possível ápice, com a chegada do presente álbum o campo de possibilidades do grupo se amplia, prova de que a serenidade imposta nas músicas de encerramento vem apenas como um respiro antes da explosão criativa de um novo disco.

 

Eternal Summers

The Drop Beneath (2014, Kanine)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Dum Dum Girls, La Sera e Best Coast
Ouça: A Burial, Until the Day I Have Won e Not For This One

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.