Disco: “The Fall Of Mesbla”, My Midi Valentine

/ Por: Cleber Facchi 21/10/2011

My Midi Valentine
Brazilian/Indie/Lo-Fi
http://mymidivalentine.bandcamp.com

Por: Cleber Facchi

 

Muito embora faça parte da recente história brasileira, poucos devem ser os indivíduos que ainda se lembram da Mesbla S.A., uma enorme rede de lojas de departamento que entre 1912 e 1999 edificaram um vasto império comercial por todo o país. Com filiais implantadas em praticamente todas as capitais brasileiras, a empresa conseguiu ao longo de 80 anos cativar uma gigantesca clientela, feito garantido por conta de sua variedade de produtos, uma miscelânea tão grande quanto a diversidade de sons que entrecortam o primeiro álbum da dupla alagoana My Midi Valentine, The Fall Of Mesbla (2011, PopFuzz).

Embora concentrado nas figuras de Marcos Cajueiro (voz, guitarra, baixo, trompete, teclado, violão) e Tales Maia (teclado, baixo, programações), o projeto e seu ampliado número de tendências reverbera o que parece ser uma gigantesca orquestra. Um colossal grupo de indivíduos que preenchem com sua vasta experiência cada mínimo espaço do trabalho, deixando que escorram desde doses sintomáticas de um indie pop festivo, até pequenas inserções de uma melancolia sublime reconfigurada em doses de 8-bits.

Como uma espécie de fita rara vinda de algum estúdio caseiro dos anos 90, o primeiro álbum do duo alagoano surge perfumado por um vasto jogo de essências do passado. Do lirismo doce dos primeiros álbuns do Belle and Sebastian aos anseios Lo-fi do Neutral Milk Hotel, das melodias sublimes do Grandaddy (maior referência do disco) aos sons moderadamente irritantes dos primeiros jogos para Game Boy, tudo dentro do disco se desenvolve de maneira nostálgica e encantadora.

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Diferente da avalanche diária de bandas iniciantes que buscam nos versos em inglês e nas referências estrangeiras suas principais referências, resultando assim em uma maioria de trabalhos enfadonhos (e vergonhosos), a dupla usa da aproximação com os sons externos a possibilidade de desenvolver um som criativo, vasto e nada convencional. Tudo bem que grande parte do que encontramos ao longo do álbum pode ser observado em uma série registros que brotaram durante a década de 1990, entretanto, a maneira como a dupla desenvolve isso os separa do óbvio, prendendo o ouvinte em um condensado de sons renovados.

Além do bem desenvolvido jogo de versos que delimitam a obra, grande parte do que movimenta o registro se esconde na beleza instrumental do trabalho. Entre solos imoderados de sintetizadores, guitarras sujas e violões tomados de leveza, açucaradas sequências de trompete acabam cortando a obra, se encontrando com uma soma enorme de rebuscados ruídos sintéticos que trazem ao álbum um ar de vídeo game music. Como resultado, faixas aos moldes de Hammer, ILUVU e I Was Trying To Touch Your Heart acabam nos encantando com seu detalhado jogo de texturas e distintas colagens musicais.

The Fall Of Mesbla é um trabalho honesto, montado por uma dupla de músicos visivelmente apaixonados por suas composições. Mais do que uma ode aos indie groups que surgiram ao longo dos anos 90, o álbum é um refúgio, uma morada para indivíduos carregados de romantismo, pequenas desilusões e sonhos. Um álbum que se adorna de beleza e originalidade, provando que a queda ainda está longe do trabalho do My Midi Valentine, que terá em toda ascensão um prêmio mais do que justo.

The Fall Of Mesbla (2011, Popfuzz)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Grandaddy, Belle and Sebastian e Lê Almeida
Ouça: ILUVO e Special

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.