Disco: “The Flower Lane”, Ducktails

/ Por: Cleber Facchi 30/01/2013

Ducktails
Indie/Lo-Fi/Psychedelic
http://ducktails.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Ducktails

Em 2011, poucos meses antes de apresentar ao público aquela que (por enquanto) é a maior obra do Real Estate, Days, o guitarrista Matt Mondanile fez de Ducktails III: Arcade Dynamics uma espécie de esboço do que estava por vir. Ou pelo menos era o que parecia na época, afinal, tão logo nos transportamos para o cenário construído no recente The Flower Lane (2013, Domino), o músico torna claro o quanto todos os esforços do passado serviram como preparativos inteligentes para o que se concretiza nas dez experimentais e nostálgicas composições que se acomodam no interior da obra. Mondanile conseguiu olhar atentamente para a década de 1980, e o que ele encontrou por lá é lindo.

Diferente de todos os outros registros em estúdio comandados pelo músico de Nova Jersey, The Flower Lane está longe de ser uma obra individual ou um possível registro solo de seu principal representante. Com uma sonoridade que contraria a resposta caseira e excessivamente suja dos lançamentos anteriores do artista, o novo álbum traz no time invejável de produtores, vozes e músicos de apoio um instrumento essencial para movimentar cada instante das composições que o cercam. Dos sintetizadores do gênio Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never) ao baixo sensual de Joel Ford, das vozes complementares de Madeline Follin (Cults) ao reforço fundamental dos membros do Big Troubles, tudo se reflete como o trabalho de uma verdadeira banda.

Cercado pela inspiração e a movimentação cuidadosa de seus vários colaboradores, Mondanile solidifica com acerto a estrutura de um álbum musicalmente coeso, amarrando de forma precisa diversas pontas soltas que antes o impediam de alcançar uma obra de fato grandiosa. O que há poucos anos se anunciava como uma tentativa (falha) em proteger os deslizes solitários do músico com camadas densas de distorção, hoje se transforma em um resultado de limpidez (na medida do possível) peculiar, um espaço criativo que garante a cada acorde, harmonia ou mínima fagulha vocal a possibilidade de alcançar o ouvido do público sem qualquer tipo de bloqueio ou barreira sonora intencional.


[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=OOk5TiR88xs?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=3mSg6k1oVpo?rol=0]

Ainda que preso aos mesmos realces ensolarados que fizeram de It’s Real e Out Of Tune algumas das composições mais significativas do riquíssimo Days, a proposta de Mondanile com o Ducktails é completamente outra. Como dito, o novo trabalho estende as duas mãos (e talvez o corpo inteiro) para se apegar aos inventos sintetizados da década de 1980, resultado não apenas evidente nos teclados característicos que se abrem pelo disco, mas em todo o jogo instrumental que preenche a obra. A proposta estimula o clima dançante instalado em Assistant Director e até as experimentações marcadas em Sedan Magic (agraciada pelos vocais de Follin) e Under Cover, faixas que mais parecem canções perdidas de Before Today (2010), obra máxima do Ariel Pink’s Haunted Graffiti.

Rompendo com os próprios limites, a viagem nostálgica firmada pela banda no decorrer da obra se expande para muito além das referências e marcas de uma única época. Quando permite a construção de pequenas paisagens instrumentais recheadas pela psicodelia, Mondanile vai de encontro decidido tanto ao rock lisérgico da década de 1970, como os sons mágicos que se estabeleceram na segunda metade dos anos 1960. É o caso da crescente e obscura Timothy Shy, faixa que abre em meio a sonorizações leves (capazes de esbarrar na obra do The Zombies) até explodir em uma sequência incrível de sintetizadores, guitarras trituradas pela distorção e todo um acabamento sombrio que pinta a psicodelia colorida da época com o mesmo preto e branco impresso na capa do disco.

Com uma distribuição ordenada das composições por todo o álbum, The Flower Lane segue do momento em que inicia até os instantes finais em uma sucessão competente de melodias e versos que praticamente se completam – cada faixa é um estímulo para a canção seguinte. Tratando sobre o amor, passagens quase existenciais e uma sequência de observações cotidianas, Matt Mondanile assume a construção de um trabalho que mesmo formatado dentro de uma concepção particular, possibilita a intervenção conceitual de cada colaborador, o que afasta o músico da zona de conforto outrora estabelecida e o aproxima de todo um novo cenário lírico e principalmente musical.

Ducktails
The Flower Lane (2013, Domino)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Real Estate, Big Troubles e Mac DeMarco
Ouça: Sedan Magic, Timothy Shy e Letter Of Intent

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/69873592″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/62786835″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.