Disco: “The Future Is Medieval”, Kaiser Chiefs

/ Por: Cleber Facchi 04/06/2011

Kaiser Chiefs
British/Indie/Britpop
http://www.kaiserchiefs.com/

Por: Cleber Facchi

Em 2007 o Radiohead tomava as páginas dos principais veículos de comunicação, reuniões em gravadoras de discos, além, é claro, dos debates nas rodinhas de amigos, apenas por levantarem a seguinte pergunta ao seu público: “Quer pagar quanto pelo nosso disco?”. A partir desse princípio, o quinteto londrino autorizava seus ouvintes ou curiosos a pagarem o que quisessem por seu mais recente álbum, In Rainbows (2007), definindo ali um novo modo de divulgar e distribuir sua música. Quatro anos depois, o efeito ainda se estende nas mais variadas áreas da música, porém, dessa vez outro quinteto, o Kaiser Chiefs resolve modificar a pergunta, e lança aos seus seguidores o seguinte questionamento: “como vocês querem nosso novo disco?”.

Enquanto boa parte dos grupos britânicos que surgiram na mesma época em que o quinteto de Leeds vem desenvolvendo um som cada vez mais monótono e redundante, a banda faz de seu quarto álbum uma proposta arriscada porém criativa. Depois de ganharem o mundo com o disco de estreia Employment (2005), conhecerem o fracasso com Yours Truly, Angry Mob (2007) e de obter a redenção em Off with their heads (2008), agora a banda resolve abandonar temporariamente a posição de músicos para se transformarem em “vendedores”, deixando que qualquer um escolha como será o novo disco do grupo, nomeado de The Future Is Medieval (2011).

Funciona da seguinte maneira: Você vai até a página da banda e clica na opção “criar álbum”. Em um conjunto de 20 faixas pré definidas você separa as 10 que mais gostou. Escolhidas as faixas e a ordem das mesmas dentro do disco, você vai para a segunda etapa, a de customização da capa do suposto álbum. Mais uma vez um conjunto de ilustrações pré-estabelecidas surgem como as bases para seu criativo trabalho, em que é possível brincar com a rotação, tamanho ou o próprio fundo da imagem de base. Feito o álbum, pelo custo de £7,50 você pode baixa-lo no seu computador, além de deixar à disponibilidade de quem mais se interessar pelo “seu” disco, sendo que a cada álbum que você vende, uma comissão de £1,00 retorna ao “fabricante”.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=oX3yfldi7Zg]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=qObzgUfCl28]

Não chega a ser revolucionário, afinal, a ideia converge uma variante de práticas já testadas em outros lançamentos, vindo da capa personalizada com adesivos do álbum The Information (2006) do Beck, ao já mencionado álbum do Radiohead, porém, os britânicos não perdem seu mérito. É possível perder umas boas horas até finalmente termos um disco em mãos, sendo possível inverter a ordem das canções, mudar constantemente a imagem do álbum, ou colher os possíveis lucros na venda do disco (a página da banda disponibiliza até um ranking com os álbuns mais vendidos feitos pelos usuários do site). Mas e no meio de tanta inovação na forma de vender o disco há qualidade nas composições fornecidas pelos “vendedores” de músicas?

Quem for se aventurar na construção de um disco aos moldes do que era encontrado em Employment pode até se decepcionar. Embora o grupo produza algumas boas composições, semelhantes às encontradas em seu primeiro disco (como Heard It Break, Little Shocks e I Dare You), muitas das canções seguem por uma sonoridade extremamente básica, ou que se voltam ao encontrado em Off with their heads. Alguém pode até atestar, “mas isso vai depender do álbum que você fizer, já que é o ouvinte quem decide como será The Future Is Medieval”, porém, como montar um bom álbum se os “produtos” fornecidas não são os de melhor qualidade?

Na tentativa de fazer um disco “criativo”, “revolucionário” ou sejam lá os rótulos dados ao novo álbum, o Kaiser Chiefs esqueceu de fazer o básico: as boas músicas. Nem mesmo toda a interatividade proporcionada pela página da banda consegue suprir a carência e o impacto causado por faixas como Everyday I Love You Less And Less, I Predict A Riot ou Na Na Na Na Na, quando o que importava ao quinteto era fazer apenas um som enérgico, pop, porém nada descartável. Bem mais vantajoso nos depararmos com um disco que hoje possa soar adolescente ou despretensioso demais, do que sermos convidados a experimentar um trabalho que depende das mais variadas estratégias para ocultar suas falhas e entregar canções pouco interessantes.

The Future Is Medieval (2011)

Nota: 4.5
Para quem gosta de: Franz Ferdinand, Arctic Monkeys e The Pigeon Detectives
Ouça: Heard It Break

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.