Disco: “The Golden Age”, Woodkid

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2013

Woodkid
Indie/Alternative/Baroque Pop
http://www.woodkid.com/

Por: Cleber Facchi

Woodkid

Existe um estranho senso de que basta a inclusão de arranjos sofisticados e orquestrações épicas para que um trabalho menor – ou mesmo insignificante -, se transforme em uma obra-prima de apelo quase imediato. Não é bem assim. Diretor responsável pelos clipes de Katy Perry (Teenage Dream), Lana Del Rey (Born To Die) e Taylor Swift (Back to December), o francês Yoann Lemoine arrisca com a primeira grande obra musical ao apostar exatamente nesse mesmo conceito. São quase 50 minutos de engenhos instrumentais impecáveis, vozes firmes, corais e letras comerciais, mas que lentamente desmoronam e deixam evidente os erros que sustentam temporariamente The Golden Age (2013, Green United Music), a estreia do Woodkid.

Do momento em que inicia ao som colossal da faixa-título, passando pelo cenário obscuro de Ghost Lights, até a conhecida Iron, Lemoine apresenta um imenso catálogo de sons, instrumentos e ferramentas que o auxiliam na construção de um som que nunca foge do que que parece ser um composto inteiramente relacionado com o “grandioso”. É como se Zach Condon (Beirut), Win Butler (Arcade Fire) e Antony Hogarty (Antony and The Johnsons) fossem mergulhados em uma substância orquestral, sacudidos de forma incessante e posteriormente derramados em uma forma plástica de nítido apelo pop. Curiosamente, dentro dessa soma de elementos tão volumosos, Woodkid alcança um efeito contrário logo em uma primeira audição do álbum, afinal, o sono parece ser uma reposta resposta imediata ao disco.

A necessidade em soar próximo de gigantes do Baroque Pop sem se distanciar do brilho artificial dos artistas que vem dirigindo faz com que Lemoine pareça desnorteado. Não se trata de uma obra entregue ao jogo cuidadoso e sensível dos instrumentos, mas à forma matemática como violinos, arranjos de sopro e tambores vão se emparelhando dentro de uma massa que se perdesse o formato original, revelaria um fino exemplar da música pop – algo no pior espírito Coldplay. Com o álbum, Yoann parte do princípio que um vocal impecável e instrumentação coesa são suficientes para alimentar qualquer registro, o que acaba revelando canções ocas, prestes a se quebrar.


[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=vSkb0kDacjs?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=lmc21V-zBq0?rel=0]

The Golden Age é um trabalho que parece ter nascido atrasado. Mesmo se fosse lançado na década passada, se aproveitando da sequência de projetos encabeçados por Arcade Fire e outros entusiastas da mesma sonoridade, o disco chegaria aos ouvidos soando como gasto. Tudo é impecável, bem produzido e lindo, porém vazio. É como se os sentimentos relatados pelo músico no decorrer da obra fossem meras representações da realidade. Fica a constante sensação de que Woodkid tentou unir o mesmo tempero pop que encontra em parceiras como Katy Perry com uma sonoridade “adulta”, como uma criança tentando empostar a voz para parecer mais velha.

Como bom artesão, Woodkid encontra todas as ferramentas para construir um trabalho que engana quem talvez tenha se acostumado à frieza ou simplicidade por vezes exagerada da música recente. Estão lá faixas dramáticas (Boat Song), composições orientadas de forma crescente (Run Boy Run), músicas que passeiam por gêneros (Conquest Of Spaces) e até canções pintadas com uma falsa atmosfera experimental (I Love You). Tudo embalado em uma rica trama instrumental. Entretanto, mesmo cheio de estratégias, Lemoine acaba caindo na própria armadilha. Ao garantir uma uniformidade plástica ao álbum, o compositor não consegue evitar que o disco desabe sobre a própria base, resultado óbvio na relação de extrema proximidade das faixas e redundância natural que torna o disco cansativo antes mesmo da terceira música.

Não há como contestar o conhecimento de Yoann em relação aos sons e temáticas que se acumulam de forma a construir a obra. É como se diversas marcas das décadas de 1960 e 1970 fossem resgatadas dentro de um invólucro atual, pronto para o público jovem e fanático pelo caráter descartável da música pop. Dessa forma, Woodkid faz de The Golden Age um ótimo disco para iniciar nas referências ao Baroque Pop, levando o ouvinte a descobrir que existem coisas muito melhores, produzidas décadas antes. Um possível álbum épico, mas para crianças.

 

Woodkid

The Golden Age (2013, Green United Music)


Nota: 5.5
Para quem gosta de: Owen Pallett, Florence + The Machine e Katy Perry
Ouça: Ghost Lights e Iron

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/12432331″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.