Disco: “The Golden Record”, Little Scream

/ Por: Cleber Facchi 21/04/2011

Little Scream
Canadian/Folk/Female Vocalists
http://www.myspace.com/officiallittlescream

Por: Cleber Facchi

Estava até demorando a chegada de um disco como esse The Golden Record (2011) da canadense Laurel Sprengelmeyer, ou como prefere ser conhecida, Little Scream. Até essa altura do ano ainda não haviam lançado nenhum trabalho que mesclasse o belo e o excêntrico dentro de um mesmo disco, algo que o Grizzly Bear fez com Veckatimest em 2009, o Beach House e o The Morning Benders assumiram em 2010 e agora este belo registro, que conta com a produção de ninguém menos do que Richard Reed Parry, um dos integrantes do Arcade Fire e líder do Bell Orchestre.

Alguém pode até dizer, “mas Jullianna Barwick e seu debut The Magic Place já não alcançaram isso?”, não com a mesma intensidade e a mesma carga emocional que abrange o presente álbum. Enquanto Barwick brinca com um coro de vocais que flui em uma temática puramente etérea, Sprengelmeyer transforma seu álbum de estreia em uma sequência de canções grandiosas, em que tanto os vocais quanto a instrumentação despejam rajadas poderosas para cima do ouvinte, convidando-o a integrar sua orquestra de experimentações repletas de uma carga dramática descontroladamente controlada.

Nada de padrões, fórmulas pré-definidas ou sequências óbvias, cada uma das dez faixas desse trabalho modificam suas formas constantemente, fazendo com que uma instrumentação inconstante seja o grande destaque do álbum. Entretanto, não apenas os instrumentos se apresentam de forma variável, já que os vocais, da primeira à última canção são amarrados de maneira a compactuar com a musicalidade do disco, proporcionando uma série de formas também instáveis, oscilando entre altos e baixos, ou formas poucas vezes trabalhadas dentro das canções.

Abrindo com The Lamb, a canadense já apresenta ao ouvinte todas suas intenções ao longo deste trabalho. Primeiro são os vocais (mais uma vez lembrando o trabalho de Barwick) quase angelicais, que servem de abertura para que a instrumentação, a princípio tradicional, ganhe aos poucos novos e sofisticados contornos. Porém é com Cannons que a musicista prende o ouvinte. A sonoridade mescla desde elementos da música folk, alguns acordes de guitarras típicos do último disco do Arcade Fire e os vocais que se quebram a todo o momento, quebra que acontece também na instrumentação da faixa, que muda seu direcionamento e volta ao seu início a todo o momento.

 

O mais fantástico ao desbravar as faixas de The Golden Record é encontrar uma surpresa a cada nova sequência. Se em The Heron and The Fox Sprengelmeyer chega em meio a uma instrumentação acústica minimalista, destilando assertivos acordes de violão com uma sofisticação adocicada, na sequência o resultado é completamente inverso. Your Radio (que transparece facilmente a presença de Parry como produtor) faz com que os vocais da garota soem de forma um tanto quanto agressiva, enquanto a instrumentação crescente se orienta a alcançar um nível épico.

Ao mesmo tempo em que se afunda na criação de sonoridades que usam do experimentalismo como suas bases, a canadense sabe dar vida a faixas do mais puro pop radiofônico, ou algo bem próximo disso. Boatman é um desses exemplos em que há um cruzamento entre o pop, o orquestral e o experimental, com todos estes elementos convergindo para a formação de uma sonoridade fácil ou pelo menos tão complexa quanto o caminho percorrido por algumas faixas do disco.

Embora boa parte das canções siga através de uma linha básica, envolvendo guitarra, violão, baixo e bateria são os detalhes, muitos deles gerados por uma instrumentação variada que acabam dando destaque ao disco. Em uma primeira audição Red Hunting Jacket pode até parecer mais um registro da música folk emoldurada por pequenos acréscimos de piano, entretanto, por detrás das espessas camadas instrumentais esconde-se desde a inserção de flautas, palmas, um coro de vocais e é claro, uma bem aplicada sequência de guitarras.

Além da detalhada produção de Richard Reed Parry, quem chega para dar complemento ao álbum é Patty McGee, do Stars, além de Mike Feuerstack, do Snailhouse, Becky Foon, do Silver Mt. Zion, e Aaron Dessner, um dos integrantes do The National, que juntos fazem com que essa estreia do Little Scream não soe como um debut solo de Laurel Sprengelmeyer, mas um grande coletivo folk.

The Golden Record (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Arcade Fire, Stars e Grizzly Bear
Ouça: The Heron and The Fox

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.