Disco: “The Great Perhaps”, The Boy Least Likely To

/ Por: Cleber Facchi 19/04/2013

The Boy Least Likely To
Indie Pop/Twee/Folk
http://www.theboyleastlikelyto.co.uk/

 

Por: Cleber Facchi

The Boy Least Likely To

Não foram poucas as bandas que tentaram ao longo dos últimos anos reviver tudo aquilo que Stuart Murdoch e os parceiros do Belle and Sebastian conquistaram na boa fase do coletivo durante a década de 1990. O misto adorável de versos irônicos (se não amargos) que se contrastavam com os instrumentos açucarados da banda, temática que praticamente orienta toda a extensão da tríade Tigermilk (1996), If You’re Feeling Sinister (1996) e The Boy with the Arab Strap (1998). Um efeito que curiosamente esculpe com a mesma perfeição os trabalhos de Pete Hobbs e Jof Owen, herdeiros confessos dos ensinamentos do grupo escocês e as duas mentes nos comandos do agridoce The Boy Least Likely To.

De posse do terceiro registro de inéditas, The Great Perhaps (2013, Too Young To Die), a dupla regressa aos inventos coloridos do debut The Best Party Ever (2005), brinca com a seriedade de Law of the Playground (2009) até encontrar a novidade que se derrama pelo presente disco. Como se fossem capazes de contar histórias para adultos, os dois compositores trazem ao novo álbum um encaminhamento noturno, efeito que se sustenta na capa “sombria” do registro e em canções que mesmo coloridas instrumentalmente, ditam melancolias e um constante sentimento de abandono durante toda a obra.

Com um maior aproveitamento no uso dos teclados, o novo disco expande tudo aquilo que a graciosa Paper Cuts, do primeiro álbum, manifestava com harmonias ensolaradas e inevitavelmente pegajosas. A diferença não está no uso exagerado de solos ou efeitos eletrônicos, mas na maneira como os sintetizadores fluem como um complemento brando para cada uma das 11 novas canções que se esparramam pelo trabalho. Exemplo assertivo dessa estrutura está em Lucky To Be Alive, uma faixa que traz na dobradinha de vocais e violões a linha de condução inicial, deixando para que pequenos efeitos sintéticos apenas temperem a música.


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Talvez pelo teor doloroso da obra, The Great Perhaps traz na manifestação sorumbática dos temas um exercício curioso de orientação e aprimoramento para os vocais. Sempre harmônicas, as vozes de Hobbs e Owen passam por um acabamento límpido e de forte caráter intimista no decorrer do novo álbum. São vocais estendidos e suaves em uma versão moderna daquilo que Simon & Garefunkel conseguiram na fase mais rica da dupla. Em Lonely Alone – que apenas o título é capaz de revelar todo o conteúdo entristecido da faixa -, toda essa formatação atinge o ápice, marca que encaminha a canção dentro de um teor totalmente ambiental, como se as vozes fossem tratadas como instrumentos, algo que remete imediatamente ao The Beach Boys da fase Pet Sounds (1967).

Cortando as amarras ou possíveis limitações com tudo o que foi construído no disco anterior, a partir do novo álbum a dupla busca incorporar uma sonoridade de nítido apelo comercial. Sempre melancólicas, faixas como I Keep Falling In Love With You Again, My Little Heart That Remembers Everything e Even Jesus Couldn’t Mend My Broken Heart trazem nos versos confissões sinceras e graciosas, feito que deve aproximar os britânicos de toda uma variedade de novos ouvintes. Sobram ainda “cha la la las” em It Could’ve Been Me (parceria com Gwenno Saunders, do grupo The Pipettes) e uma das mais belas passagens sobre amizade em Thank You For Being My Friend. Canções tratadas dentro de uma medida compacta, mas que encontram na honestidade dos versos um caminho para confortar, mesmo que por alguns instantes, qualquer ouvinte.

Se por um lado as canções aprimoram a relação com Belle and Sebastian, além de outros artistas recentes que lidam com uma sonoridade próxima, como I’m From Barcelona, por outro lado é visível o posicionamento seguro e o encontro com um som de identidade particular durante todo o disco. Ao assumir cada faixa como uma confissão a dupla encontra o principal sustento para o álbum, um trabalho de razões essencialmente simples, mas de resultado de proposito grandioso.

 

The Great Perhaps

The Great Perhaps (2013, Too Young To Die)


Nota: 7.8
Para quem gosta de: Belle and Sebastian e I’m From Barcelona
Ouça: I Keep Falling In Love With You Again e Thank You For Being My Friend

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.