Disco: “The Harrow & The Harvest “, Gillian Welch

/ Por: Cleber Facchi 14/07/2011

Gillian Welch
Alt. Country/Folk/Singer-Songwriter
http://www.gillianwelch.com/

 

Por: Cleber Facchi

É realmente interessante a maneira encontrada por alguns artistas para a composição de suas obras-primas. Alguns encontram na continuidade de suas produções uma fórmula, algo conquistado através de anos de experiência e que em algum momento parece dar certo. Outros simplesmente lançam seu trabalho de estreia de forma impactante, para logo após desaparecem em meio a trabalhos fracos ou de baixíssima qualidade. Outros, como a cantora e compositora Gillian Welch passam décadas em meio a produção de trabalhos razoáveis, praticamente desconhecidos do público, mas que assim, como num estalar de dedos lança sua obra máxima e um trabalho digno de abalar quaisquer estruturas.

Desde o começo dos anos 90 se aventurando em meio a composições voltadas à música country, Welch que já trazia em sua bagagem quatro discos de estúdio chega agora com um registro que não apenas a distancia de seus anteriores projetos, como apresenta uma compositora completamente inédita ao seu público e principalmente aos que sequer ouviram falar de sua obra. Simplista, levemente bucólica, a cantora faz de The Harrow & The Harvest (2011, Acony) um dos achados mais belos do folk norte-americano, um registro de pura comoção e beleza.

Entre todos os mecanismos que surgem para definir o novo trabalho de Welch, o tempo parece ser o elemento de maior importância dentre eles. Desde seu último registro – Soul Journey de 2003 – a musicista passou oito anos em um quase completo silêncio, se apresentando esporadicamente com composições de seus anteriores trabalhos, mas em nenhum momento assinando alguma nova criação. Embora tivesse material para dois ou até três discos como contou em entrevistas, nada que fosse composto dentro desse hiato parecia lhe agradar, sendo que somente de dois anos para cá que as verdadeiras canções começaram a brotar.

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Embora seja o nome de Gillian que brilhe na capa do trabalho ou mesmo em suas apresentações ao vivo, metade (ou quem sabe até mais do que isso) da beleza que perpassa o registro vem da instrumentação e dos versos de seu eterno parceiro David Rawlings. Desde o início da carreira acompanhando a cantora, Rawlings assume tanto a produção do registro quanto a condução instrumental dele. Entretanto, diferente dos anteriores trabalhos (em que o músico já havia ocupado a mesma posição) é como se dentro desse quinto disco um tipo de união entre os dois se estabelecesse de maneira quase mística, algo bem representado pela suavidade do trabalho.

Enquanto em seus anteriores projetos Welch se voltava às primeiras produções da musica country em território norte-americano, além de cruzar algumas referências com a música de Bob Dylan ou mesmo toques de rock alternativo de grupos como Pixies e até The Velvet Underground, em seu quinto disco o retrospecto é ainda maior, como se a artista voltasse completamente no tempo e no espaço, se firmando em um ambiente completamente orgânico, livre de tecnologias e completamente bucólico. É como se ao longo do álbum a cantora fosse pintando uma paisagem verde e matinal, um espaço perfeitamente coeso para sua música simplista, quase sempre movida por um violão, um banjo, uma rara gaita de boca, e claro, sua voz.

Livre de elementos de percussão ou qualquer instrumento elétrico, Welch e Rawlings conseguem em poucos segundos sugar o ouvinte para dentro de sua atmosfera esverdeada, úmida e minimamente melancólica. The Harrow & The Harvest não é um disco em que se destacam faixas ou que foi moldado para ouvir em doses, pelo contrário, seus quase 50 minutos de duração merecem ser apreciados em uma dose única, um tempo exato e mais do que suficiente para que possamos nos transportar da nossa vida e adentrar o mesmo universo preparado pelo casal. Nunca simplicidade pareceu algo tão amplo e diversificado quanto o que é propagado por este álbum.

 

The Harrow & The Harvest (2011, Acony)

 

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Dave Rawlings Machine, Neko Case e Fleet Foxes
Ouça: O disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.