Disco: “The Idler Wheel…”, Fiona Apple

/ Por: Cleber Facchi 21/06/2012

Fiona Apple
Alternative/Baroque Pop/Female Vocalists
http://www.fiona-apple.com/

Por: Cleber Facchi

Fiona Apple

O tempo só trouxe benefícios e melhorias à carreira da nova-iorquina Fiona Apple. Artista favorável aos longos espaços entre um lançamento e outro, a musicista vinha desde 2005 sem apresentar um novo registro em estúdio. De fato, embora agradável e dona dos mesmos acertos que em outras épocas alavancaram a carreira da compositora, logo que lançado Extraordinary Machine deixava evidente a presença de uma artista em pleno declínio criativo, como se a força alcançada por ela no começo da década anterior com álbuns como Tidal (1996) e When the Pawn… (1999) não fosse mais a mesma. A cantora precisava de descanso e tempo para conquistar inspiração, e foi em busca disso que ela partiu.

Enquanto no começo de carreira Apple dividia espaço com nomes como Tori Amos e a badalada Alanis Morisette, com o passar dos anos e o surgimento de outras artistas como Feist, Regina Spektor, Florence Welch e tantas outras cantoras relacionadas ao cenário alternativo, ficou mais do que estabelecido o quanto a herança da norte-americana foi a que mais prevaleceu. Sempre protegida por uma aura criativa particular, a musicista passou os últimos sete anos em quase completo silêncio, divulgando vez ou outra uma nova canção de seu último disco, colaborando com algum artista ou se apresentando esporadicamente, tudo isso até que em 2008 começou a registrar pequenos fragmentos do que viria a se transformar no quarto registro oficial de sua carreira.

Com um título tão extenso quanto o disco de 1999, The Idler Wheel Is Wiser than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More than Ropes Will Ever Do (2012, Epic) mostra mais uma vez o quanto o tempo apenas favoreceu a cantora. Hoje aos 34 anos, Fiona deixa mais do que claro o quanto está longe de ser apenas uma personagem marcada pela nostalgia de quem volta os olhos e ouvidos para a década de 1990. Reinventando os experimentos jazzísticos e o pop alternativo que tanto abasteceram os pianos comandados por ela, a cantora faz do novo disco o registro mais maduro e complexo composto por ela em mais de 15 anos de carreira. Dona de uma atuação sóbria e inspirada por um lirismo maduro, Apple usa do presente disco para reviver temas e questionamentos por vezes esquecidos por ela.

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Curioso notar, mas em um cenário consumido cada vez mais por artistas similares e interessados em um padrão instrumental partilhado, Apple se assume de forma individual. Mesmo que Jonathan, Valentine ou o single Every Single Night (que muito lembra algo do álbum Metals da canadense Feist) se evidenciem de maneira a compactuar com tudo que ecoa atualmente tanto na música pop como no cenário independente, a instrumentação não linear e a voz exaltada e mutável da cantora garantem novo sentido ao trabalho da artista. Ora imersa em um clima de cabaré moderno, ora construindo a trilha sonora do que parece ser uma comédia romântica de erros, Fiona consegue transformar cada uma das canções do disco em um recorte distinto, como se todas apontassem para uma direção, mas se encontrassem ao final.

Inteiramente confessional, o registro traz nas dez canções que o definem a expressão ímpar da artista, personagem que se transforma voluntariamente na matéria prima para cada uma das faixas que surgem com o passar do disco. Da música de abertura até a angustiante Regret (com os vocais de Fiona surgindo de forma nunca antes vista), tudo no interior da obra parece parece ter um pedaço vivo da artista. Mais do que investir em uma construção lírica primorosa, Apple se deixa consumir por uma instrumentação sempre versátil e não óbvia, percepção que contribui para a percussão diversificada e as harmonias não convencionais evidentes logo na música de abertura da obra.

The Idler Wheel… é um disco que soa como tudo, menos como um registro típico de Fiona Apple. Talvez por isso, passear pelo álbum seja um exercício tão satisfatório, raro e difícil de ser evitado, percepção que se amplia intensamente ao longo das faixas. Da capa, passando pela produção e construção das músicas, cada mínima fração do registro torna evidente a participação da cantora, que parece ter ocupado os últimos sete anos esculpindo todos os mínimos ruídos, notas, letras ou vozes que dão alma ao projeto. Diferente de tantos outros artistas e ícones que que surgiram na mesma época em que a nova-iorquina, Apple utiliza do trabalho para se desvencilhar de velhos acertos e fórmulas prontas, transformando o álbum em não apenas um retorno, mas em uma nova estreia, seja para ela própria ou para todas as novas gerações que talvez desconheçam os anteriores lançamento da artista.

The Idler Wheel… (2012, Epic)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Tori Amos, Feist e St. Vincent
Ouça: Regret e Every Single Night

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.