Disco: “The Iron Soul Of Nothing”, Sunn O)))

/ Por: Cleber Facchi 07/01/2012

Sunn O))) meets Nurse with Wound
Drone/Experimental/Post-Industrial
http://www.myspace.com/sunnofuneraldoom

 

Por: Cleber Facchi

 

Com o lançamento de Black One em outubro de 2005, Stephen O’Malley e Greg Anderson, a dupla nos comandos do Sunn O))) parecia ter delimitado todos os limites para a obra que vinham promovendo até então. A percepção desse encontro musical resolvido nos projetos do duo vindo de Seattle, Washington tornou-se evidente também no registro seguinte, Monoliths & Dimensions (2009), trabalho que em vista da bem acertada escolha das texturas instrumentais (além do tom menos climático da obra) possibilitaram que a banda fosse acolhida por uma nova soma de seguidores e estreitasse a relação com alguns projetos veteranos do Doom Drone ou veteranos da música experimental.

Entre as diversas colaborações – que incluem trabalhos ao lado da banda japonesa Boris e parcerias com Dylan Carlson, do Earth, apontado por muitos como um dos propagadores do estilo em idos da década de 1990 –, a dupla chega agora com mais uma bem elaborada colaboração. Dessa vez o duo atravessa o oceano atlântico e vai de encontro ao Nurse with Wound na Inglaterra, projeto criado no final da década de 1970 por Steven Stapleton e que há mais de três décadas vem se aventurando na produção de composições estritamente experimentais, sujas e desconcertantes.

Ao longo de uma hora de duração a trinca de instrumentistas se encontra, se distancia e compartilham experiências dentro de The Iron Soul Of Nothing (2012, Ideologic Organ) enquanto uma soma densa de guitarras começa a se desenvolver moderadamente. Se a abertura leve da faixa Dysnystaxis – uma das quatro composições do registro – repassa ao longo dos quase 20 minutos de sua duração um constante aspecto de aquecimento (e talvez até de assimilação dos componentes do projeto), conforme o registro se desenvolve o disco vai se acrescendo de novas e distintas características. Logo, a tonalidade amena e levemente obscura que caracteriza o álbum – e que aproxima a banda de Seattle dos primeiros trabalhos – dá lugar a algo intenso e sufocantemente invasivo.

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Embora nos instantes iniciais do álbum (que já valeriam por um registro inteiro de alguma banda punk) ainda seja praticamente invisível a presença de Stapleton – que se resume a pequenos ruídos cacofônicos ao fundo dos imensos paredões alavancados pela dupla norte-americana -, à medida que o trabalho cresce, aumenta também a participação do britânico. Ash on the Tress (The Sudden Ebb of a Diatribe), terceira composição do disco é também a música que melhor corresponde aos inventos sujos do compositor, que além de preencher a música com sua própria voz, traga o espectador para o universo de experimentos sempre instáveis que assume individualmente em carreira solo.

Entre sons inicialmente desenvolvidos em cima de guitarras distorcidas e pendências ao industrial rock (características típicas dos álbuns do Nurse with Wound), Stapleton vai aos poucos inserindo novas possibilidades ao álbum e à faixa, que no decorrer de 17 minutos modifica os sons que a envolvem inúmeras vezes. Aos poucos, torna-se necessário o abandono ao Drone, com a faixa caindo na experimentação e se adornando de ruídos eletrônicos, vidros se partindo e todo um catálogo de sons que talvez fossem inviáveis dentro dos trabalhos próprios do Sun O))).

Ao fim do registro há novamente a calmaria e a construção de uma sonoridade intencionalmente atmosférica, transformando The Iron Soul Of Nothing em um trabalho dividido em partes: uma abertura leve, uma densidade crescente, o ápice e o fechamento suave. Mimetizando as influências dos dois projetos, o registro rompe com as obviedades de cada um dos idealizadores, possibilitando que um absorva o tom climático ou as experimentações inconstantes do outro.

 

The Iron Soul Of Nothing (2012, Ideologic Organ)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Earth, Boris e Sobre A Máquina
Ouça: Ash on the Tress (The Sudden Ebb of a Diatribe)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.