Disco: “The Less You Know The Better”, DJ Shadow

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2011

DJ Shadow
Electronic/Hip-Hop/Alternative
http://www.myspace.com/djshadow

Por: Gabriel Picanço (@gabrielpicanco)

Os álbuns do DJ Shadow são homenagens de um homem à sua maior paixão: a música. A grande declaração de amor do artista foi em 1996, com o álbum Endtroducing… em uma época em que o termo “mashup” era algo praticamente desconhecido. DJ Shadow, codinome de Josh Davis, entrou em uma loja, juntou um monte de vinis, juntou com outros de sua grande coleção (dizem que hoje ele é dono de um acervo com mais de 600 mil álbuns) e fez um disco. Um dos melhores dos anos 1990, segundo quase todas as listas especializadas e citado como entre os favoritos de muita gente boa por aí. O grande diferencial e a maior qualidade do trabalho do músico é a forma como ele cria usando “retalhos sonoros” de músicas que ficaram esquecidas no tempo. O arqueólogo dos vinis, profundo conhecedor da música americana, em especial, do soul e do funk, coleta sons de artistas tão obscuros que nem adianta fazer esforço para tentar identificar enquanto ouve: o cara vai fundo.

Seguindo a mesma formula de seus anteriores projetos, The Less You Know The Better chega cinco anos após The Outsider, último lançamento de Shadow. Nesse tempo, ele provavelmente estava trabalhando duro para “compensar” o trabalho anterior. Mesmo sendo positivamente avaliado pelo grande maioria dos críticos, o disco não fez tanto barulho quanto o sua obra-prima Endtroducing…, ou o seguinte, The Private Press, de 1996.

As musicas em The Less You Know The Better são tão concisas e coesas que é difícil acreditar que a unidade foi feita a partir de pedaços de muitas outras faixas. Os remendos são imperceptíveis e as falhas simplesmente inexistem. É realmente fascinante a precisão técnica e a sensibilidade artística com a qual o criador dessa nova linguagem musical manipula sequências em loop, as melodias e batidas hipnóticas, costura as camadas, cria atmosferas relaxantes e transforma as matérias-primas em coisas totalmente novas e originais.

Apesar de percorrer diferentes estilos, o álbum carrega a marca autoral característica de Shadow, um clima soturno, arrastado e melancólico. Mas, ainda assim, ouvir o disco é um pouco como a experiência de sintonizar uma estação de rádio esquizofrênica, aparentemente sem lógica. Estação em que Tom Vek canta a animada Warning Call, logo depois da canção triste e de cortar Sad And Lonely. Junto a isso, as guitarras pesadas em Border Crossing, que lembra um metal setentista, e no single I Gotta Rokk. Mais adiante, ainda vem Def Surrounds Us, uma aula de breakbeat, com sete minutos de batidas pulsantes e catárticas, com direito até a samples de ópera, que contribuem ainda mais para dar força à faixa. Épico, não tem outra definição.

Completam a mistura do disco faixas mais contemplativas e experimentais, que se aproximam do trip-hop, (estilo que muitos acreditam ter sido criado por Shadow) e outras com batidas de hip hop mais ortodoxas, como Stay The Course, que conta com a participação de Talib Kweli e Posdnuos, do De La Soul. Aqui cabe dizer que a musa Yukimi Nagano, do Little Dragon, participa do álbum, em  Scale It Back.

Em The Less You Know The Better DJ Shadow compensa os cinco anos mergulhados na sua montanha de vinis e apresenta ao mundo um disco digno do artista que é. Para além da qualidade técnica ou do fato de estar revisitando e reformulando as inovações estilísticas que criou, o que transborda no álbum é a sinceridade de um artista que ama seu trabalho.

The Less You Know, The Better (2011, Island)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Avalanches, Aphex Twin e Girl Talk
Ouça: I Gotta Rokk e Border Crossing

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.