Disco: “The Lion’s Roar”, First Aid Kit

/ Por: Cleber Facchi 17/01/2012

First Aid Kit
Swedish/Folk/Indie Pop
http://thisisfirstaidkit.com/

Por: Cleber Facchi

 First Aid Kit

Se a Suécia sempre foi o berço de projetos graciosos e embalados por doces linhas instrumentais, letras mágicas e vocalistas dotados de vozes hipnoticamente suaves, então o First Aid Kit talvez seja a melhor personificação de toda essa sutileza e amenas sensações que percorrem a produção musical da fervilhante Estocolmo. Contudo, quem observa unicamente o trabalho das irmãs Johanna e Klara Söderberg como um mero acumulado de referências brandas, talvez precise rever esse conceito ao se deparar com o novo lançamento da dupla, The Lion’s Roar, um álbum que mantém a força e a distinção não apenas no título, mas em toda a estrutura que o compõem.

Levemente distanciadas do tom folk açucarado que caracterizava o razoável The Big Black & The Blue de 2008, registro de estréia da dupla, e explorando uma sonoridade mais sóbria e adulta, as garotas transformam a extensão do presente disco em um trabalho envolvente, climático e tocado de maneira leve pela melancolia. Afastadas das doces sensações que habitam a música local, o duo mergulha fundo no cancioneiro country norte-americano, explorando tanto o misticismo bucólico de Gillian Welsh como as harmonias vocais típicas do Fleet Foxes.

Escuro, porém não hermético e denso demais, o trabalho se desenvolve dentro de uma linha de tempo própria, possibilitando que a dupla discorra sobre o amor dentro de uma linguagem suave, não banhada por clichês, além de todo um conjunto de temáticas que ampliam as possibilidades poéticas das irmãs. Há desde observações próprias sobre o universo masculino (In The Hearts of Men), declarações de amor (To a Poet), até típicas composições para pós-relacionamentos (I Found A Way), todas composições exploradas com certo toque de delicadeza, esboçando em cada verso uma forte presença da dupla de compositoras.

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Para a construção do bem explorado conjunto de versos que marcam a obra, as irmãs se apóiam em uma instrumentação e temáticas variadas, mantendo sempre como plano de fundo a música folk em suas inúmeras facetas. Dessa forma, torna-se possível depararmos tanto com criações marcadas pela formação de referências épicas (visível na grandiosidade da faixa título, que muito lembra o Fleet Foxes do primeiro álbum), como também a criação de composições modestas (representada pela sutileza amarga de Dance To Another Tune, quase uma Cat Power pós-You Are Free).

Embora apoiadas em direcionamentos diferentes, todas as composições do álbum são amarradas em uma linha musical bem visível. Da canção de abertura até o divertido encerramento com King Of The World, há sempre a presença de um toque orgânico e caseiro, como se todo o trabalho – com seus violinos, banjos e palmas – fosse captado em alguma fazenda ou em algum festejo agrícola de algum município interiorano, gerando a formação de um som cativante, rico e deliciosamente acolhedor – mesmo que doloroso em alguns momentos.

Provavelmente uma das vantagens do trabalho está na maneira como instrumentos, vozes e demais elementos são amarrados de maneira competente e bem estruturada, abandonando definitivamente a precariedade do disco anterior, um álbum quase inteiramente gravado, produzido e mixado pelas próprias garotas. Dono de um som límpido e habilmente arquitetado, The Lion’s Roar deve proporcionar ainda mais destaque ao trabalho da dupla, que ao se afundar nas origens e sutilezas da música folk genuína acabam proporcionado um trabalho não artificial e verdadeiro em todos os aspectos.

The Lion’s Roar (2012, Wichita)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Laura Marling, Fleet Foxes e Gillian Welch
Ouça: This Old Routine e The Lion’s Roar
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.