Disco: “The Luca Brasi Story/Stranger Than Fiction”, Kevin Gates

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2013

Kevin Gates
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://kevingat.es/

 

Por: Fernanda Blammer

Kevin gates

Kevin Gates parece ter encontrado um efeito individual no que alimenta com doses de densidade o Gangsta Rap. Veterano da cidade de Baton Rouge, Louisiana, o rapper norte-americano atravessa mais de meia década em meio ao jogo coeso de mixtapes corrompidas pela agressividade e o caráter sombrio dos versos. Um exercício que foge a zona de conforto previamente estabelecida por outros artistas, acumula referências de natureza particular e compartilha todo esse plano conceitual em duas bem desenvolvidas obras: The Luca Brasi Story e Stranger Than Fiction.

Enquanto a primeira – uma mixtape, apresentada já há alguns meses -, reforça a despretensão de Gates e a capacidade em contar histórias dentro de um esforço temático, o segundo trabalho exprime a identidade do rapper em flertar com o comercial. Ambos os registros deixam clara a capacidade do artista em caminhar por diferentes terrenos sem necessariamente surgir próximo do óbvio. Assim, é visível uma manifestação autoral que resulta em uma centena de percursos individuais em cada obra – todas amarrados dentro do composto instrumental que parece guiar com cuidado a essência de Gates.

Ainda que busque centrar todo o cardápio de musicas em um ambiente particular – arrastando a temática do universo gangster da década de 1930 para o presente -, Gates está longe de delimitar a própria obra dentro de um arco fechado de referências. A propriedade histórica que acompanha os registros parece ser apenas um princípio para o cenário corrompido pelas drogas, sexo, morte e todo o panorama obscuro que aos poucos tende a sufocar o artista. Assim como Jay-Z e Tupac em começo de carreira, o apelo Gangsta e forte conexão com o passado surgem como meros complementos, nunca o todo.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=aE4UNGlu-Ak?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=Hwvo2PFH_TQ?rel=0]

Com uma interpretação particular exposta em cada obra, Gates ameniza no Flow e na construção melódica dos sons a individualidade sonora dos registros. Por conta do enquadramento amplo, típico de uma Mixtape, em The Luca Brasi Story a multiplicidade dos sons ecoa uma maior personalidade no trabalho do rapper. Enquanto Just Ride, parceria com Curren$y, delimita uma aproximação comportada com o R&B, outras como Around Me apostam no teor grandioso das rimas e vozes, impondo uma natural relação com a obra recente de Kendrick Lamar. Mais do que contar histórias ou brincar com o passado, o rapper sabe de forma autêntica como fisgar o ouvinte.

Em Stranger Than Fiction o esforço é outro. Com uma maior aproximação entre os sons e um número menor de colaboradores, Gates finaliza uma obra enxuta. Em um sentido constante de desespero controlado, o disco cruza vozes ásperas em meio a batidas quase letárgicas, marca específica de músicas como MYB e Die Bout It. A extrema relação entre as faixas amplia o teor soturno do registro, que mesmo acessível em alguns momentos (vide Smiling Faces e Careful), parece ambientado em um plano cada vez mais sufocante.

Parte visível no acerto de Kevin Gates, com os dois álbuns, está na escolha apurada dos produtores. Longe de grandes nomes da cena norte-americana, o rapper entrega a composição do álbum a um grupo de jovens artistas, experiência que mesmo orientada pela diversidade, acaba finalizando todos os sons dentro de um mesmo ambiente. Dessa forma, é possível observar The Luca Brasi Story e Stranger Than Fiction como obras ao mesmo tempo complementares e um princípio para um projeto de rumos a serem ampliados por Gates.

 

Kevin gates

The Luca Brasi Story/Stranger Than Fiction (2013, Breadwinners Association)

Nota: 8.0/7.8
Para quem gosta de: Future, Curren$y e Chief Keef
Ouça: Get Em, White Tan e Just Ride

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.