Disco: “The Money Store”, Death Grips

/ Por: Cleber Facchi 19/04/2012

Death Grips
Hip-Hop/Experimental/Rap
http://thirdworlds.net/

Por: Cleber Facchi

Caos, apenas caos. Focados nessa estrutura destrutiva Stefan Burnett (vocais), Zach Hill (produção/bateria) e Andy Morin (produção) moldaram as bases para a onda de violência instrumental que caracterizou a primeira e intensa mixtape do Death Grips, Exmilitary. Espécie de produto típico da diversificada cena que tomou conta do hip-hop norte-americano no último ano – afastando os luxos e exageros do gênero para explorar uma nova vertente do Rap -, o álbum parece resultado de um passado distante do grupo quando observado paralelamente ao novo The Money Store, primeiro disco de estúdio da “banda” e álbum que arrasta o trio para um novo patamar de referências e experimentos.

Com as ideias claramente melhor organizadas, a tríade californiana deixa de lado a cacofonia sonora que se apoderava de faixas como Guillotine e Takyon (Death Yon) para tratar de uma músicas mais plásticas e possivelmente comerciais. O tom denso de outrora e a atmosfera obscura – uma espécie de sensação automática para os que viam os estranhos clipes do grupo – surgem modificados, com os três componentes (e alguns parcos colaboradores) tratando de rever cada mínimo conceito do novo álbum. Esqueça as marretadas firmes, os vocais sufocantes e os versos niilistas que tanto moldaram as 13 faixas do registro anterior. Se o ato de experimentar é a lógica principal do projeto, então preparem-se, pois os 41 minutos do novo disco pregam única e exatamente isso.

Por mais impactante e agressivo que fosse o resultado proposto no álbum passado, havia a constante necessidade do trio – que na época fazia de tudo para parecer oculto – em produzir composições capazes de atrair o grande público, algo bem visível em Lord of the Game, um achado dançante e ainda assim anárquico. Espécie de continuação exata do que o Death Grips atingiu com essa faixa, todas as músicas presentes no novo trabalho são adornadas pelas mesmas experiências convidativas de outrora, explorando de forma aberta e natural toques voláteis de música eletrônica e batidas com precisão matemática típicas dos projetos paralelos de Zach Hill.

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Talvez aos interessados pelas complexas e bruscas estruturas que definiram todo o trabalho anterior, ouvir The Money Store pela primeira vez acabe se revelando como um exercício de estranhezas. Burnett – ou MC Hide como também é conhecido – surge como um representante muito mais ponderado, algo visível logo na inicial Get Got, música que investe em uma estrutura totalmente “suave” quando posta ao lado das primeiras criações do grupo. Isso não quer dizer que faixas dotadas de um peso maior não possam se desenvolver com o passar do disco, algo que a seguinte The Fever (Aye Aye) ou Hustle Bones assumem com força e batidas menos brandas. Entretanto, a proposta do grupo ainda é outra.

Dos samples ocasionais ao total de outras bases que preenchem o disco, tudo ecoa uma forte aproximação com a música eletrônica, não como raiz do álbum, mas como um reforço, um mecanismo de distinção quando observado próximo do último trabalho dos californianos. A proposta acaba por revelar uma nova imagem do Death Grips, que agora é capaz de alcançar hits tão poderosos quanto qualquer outro projeto do gênero – imagine um LMFAO com cérebro. O melhor exemplo disso está dentro de duas faixas, I’ve Seen Footage e Hacker, músicas tomadas por uma condução amigável, dançante e capaz de cativar o ouvinte mesmo com os vocais ásperos de MC Hide.

Diversificado, o registro permite que o trio transite por uma série de caminhos que antes pareciam impossíveis de serem explorados, ora ancorando na estranha fluência pop da M.I.A. do disco Kala, ora flertando com o hip-hop jazzístico do Shabazz Palaces. The Money Store não é apenas uma surpreendente e não óbvia extensão do que o Death Grips já vinha desenvolvendo, mas sim uma resposta a qualquer tipo de redundância um fórmula pronta que se mantém atrelada ao rap norte-americano. O caos ainda está presente nas mãos e nos versos dos componentes do grupo, apenas controlado e dissolvido de forma muito mais interessante.

 

The Money Store (2012, Epic)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Shabazz Palaces, M.I.A. e Hella
Ouça: The Fever (Aye Aye), The Cage e I’ve Seen Footage

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.