Disco: “The Moon Rang Like A Bell”, Hundred Waters

/ Por: Cleber Facchi 04/06/2014

Hundred Waters
Indie/Electronic/Dream Pop
http://www.hundred-waters.com/

Por: Cleber Facchi

Desde o lançamento do primeiro disco, em 2012, o quarteto Hundred Waters fez da sonoridade emanada pelas próprias canções uma passagem envolvente para o etéreo. Cruzando referências que vão do Folk aos arranjos eletrônicos, passando pela psicodelia proposta na década de 1970 e o Drem Pop em 1980, a banda de Gainesville, Florida está longe de encontrar conforto dentro de uma atmosfera específica. Posicionamento que o recém-lançado The Moon Rang Like A Bell (2014, OWSLA), segundo álbum de estúdio, revela em meio a colagens de sons tão mágicas, quanto realistas e desafiadoras.

Distante da homogeneidade que parecia alcançada no bem recebido debut, o novo álbum é uma obra de possibilidades. Do momento em que Show Me Love inaugura o disco até a chegada de No Sound, no encerramento da obra, cada passo dado pelo quarteto – Nicole Miglis, Trayer Tryon, Paul Giese e Zach Tetreault – evidencia transformação e ruptura. Com um pé na realidade e outro no plano astral, o disco se desmancha como uma nuvem doce de colagens e essências, ambiente exato para a hipnose coletiva que o grupo expande com o passar das músicas – sempre aproximadas, como um bloco único de sons.

Um pouco mais “sintético” que o álbum de 2012, The Moon Rang Like A Bell evita a proliferação de arranjos acústicos, mergulhando o ouvinte em um agregado de essências quase irreais, distantes da nossa realidade. Das batidas que ecoam o trabalho de Björk na década de 1990 ao diálogo com o Pós-Rock, dos flertes vocais com o R&B ao agregado denso do Dream Pop, cada canção autoriza o grupo a provar de pequenas tendências. Se em segundos o disco soa como o Múm em boa fase, logo nos minutos seguintes alguma diva da música negra parece arrastada para o mesmo ambiente de Julia Holter.

Livre de certezas, a presente obra do Hundred Waters aposta unicamente no invento e na desconstrução das ideias. Dessa forma, cada música cresce como um objeto isolado dentro do álbum. Enquanto Out Lee brilha em virtude dos argumentos eletrônicos dentro de uma formação mística, Innocent, logo em sequência, surge fria, matemática em determinados pontos. Uma constante sensação de que as experiências lançadas em músicas como Thistle, do disco passado, não apenas foram ampliadas, como encontraram novo significado nas mãos e exigências do grupo. Nada que prejudique a coerência do registro, continuamente amplo e aproximado esteticamente na mesma medida.

Mesmo apresentado como uma obra em expansão, o disco mantém desde as primeira faixa um mesmo elemento de comunicação entre as músicas: os vocais. Capazes de garantir ordem e sentido ao trabalho, as vozes de Nicole Miglis não apenas se espalham confortavelmente pelo disco, como brincam com as impressões do ouvinte. Basta perceber o desenvolvimento de Cavity, faixa que manifesta os arranjos de forma sempre comprometida com as vozes – mutáveis em todas as direções. Enquanto nomes como Julia Holter e Julianna Barwick buscam apenas confortar o ouvinte por meio das vozes, em The Moon Rang Like A Bell o sentido é outro, instigando a cada grito, vocalização alongada ou mínimo suspiro.

Mesmo provocador, o segundo álbum do Hundred Waters está longe de revelar suas emanações de forma imediata. É preciso tempo até que o direcionamento encontrado pelo grupo seja parcialmente solucionado pelo ouvinte – constante refém das alterações rítmicas da obra. Entretanto, uma vez submerso pelas camadas de sons que se movimentam pela obra, mergulhar cada vez mais fundo na profundidade misteriosa do álbum se transforma em uma obrigação. Um ato simples de estabelecer pequenas conexões, mesmo sem saber ao certo o que se esconde por entre as faixas.

 

Hundred Waters

The Moon Rang Like A Bell (2014, OWSLA)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Braids, Julia Holter e Blue Hawaii
Ouça: Innocent, Murmurs e Cavity

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.