Disco: “The Most Lamentable Tragedy”, Titus Andronicus

/ Por: Cleber Facchi 03/08/2015

Titus Andronicus
Indie Rock/Punk Rock/Alternative
http://titusandronicus.net/

The Most Lamentable Tragedy (2015) é uma obra que espanta. São 29 composições, mais de uma hora de duração recheada por gritos agressivos, guitarras sujas e o mais completo desespero que define a primeira Ópera Rock do Titus Andronicus. O retrato (musicado) de um personagem atual, um “herói sem nome”, como aponta o vocalista Patrick Stickles, enquanto transforma o registro em um verdadeiro catálogo de versos sufocados, temas existencialistas e conceitos íntimos do universo de um maníaco depressivo.

Novidade dentro da carreira do grupo de Glen Rock, New Jersey? Possivelmente não. Quem acompanha o trabalho da banda desde a estreia com The Airing of Grievances (2008), sabe do interesse de Stickles em converter temas ou acontecimentos históricos em música. Basta voltar os ouvidos para o clássico The Monitor, de 2010, para perceber como diferentes acontecimentos da Guerra Civil dos Estados Unidos servem de estímulo para o ambiente caótico/metafórico da cada composição. Com a chegada do presente disco, apenas uma expansão da mesma proposta.

A principal diferença em relação aos últimos discos da banda está no caráter intimista dos versos. Ainda que o vocalista se mantenha “distante” do trabalho, representado apenas pelo eu lírico do protagonista Herói, difícil não perceber em faixas como Funny Feelings e I Lost My Mind uma inevitável abertura e imediata aproximação em relação ao trabalho. Comercialmente, este talvez seja o registro mais coeso e acessível de toda a discografia da banda, efeito não apenas dos versos descomplicados, mas da explícita transformação instrumental que orienta cada uma das faixas.

Mesmo que a essência musical do Titus Andronicus seja preservada – vide as guitarras de No Future Part IV : No Future Triumphant -, durante toda a obra, Stickles e os parceiros de banda se concentram na busca por novas possibilidades e arranjos. Longe do rock sujo, quase Shoegaze, testado desde a estreia com The Airing of Grievances, são melodias nostálgicas e bases encorpadas por pianos que alimentam grande parte das canções. Oposto ao material apresentado há três anos com Local Business (2012) – um álbum gravado ao vivo em estúdio -, detalhes e pequenos acréscimos instrumentais ampliam ainda mais o amplo conceito da obra.

Em um diálogo atento com diferentes cenas e tendências exploradas na década de 1970, The Most Lamentable Tragedy abraça tanto o rock clássico de veteranos aos moldes de E Street Band e The Clash, como a sonoridade referencial de artistas contemporâneos, caso da banda nova-iorquina The Hold Steady. É fácil lembrar de outros entusiastas e também compositores de óperas rock. Nomes como Meat Loaf, The Who e até Pink Floyd (pós-Animals) que ecoam em pequenos fragmentos instrumentais ao longo do álbum. Muito do que foi apresentado em David Comes to Life (2011), “romântica” ópera rock da banda canadense Fucked Up, parece reciclado no interior do presente disco; um misto de homenagem e detalhada apropriação.

Naturalmente extenso, longe de ser absorvido em uma primeira audição, The Most Lamentable Tragedy é uma obra que exige tempo e completa dedicação do ouvinte. Prováveis “hits” estão espalhados por todo o registro, entretanto, o grande acerto do álbum está na expressiva repetição de ideias e até mesmo faixas que servem de continuação para músicas apresentadas nos últimos discos do grupo. Um conturbado jogo de ideias e interferências musicais que lentamente sintetizam o mesmo pensamento atormentado que invade a mente do protagonista da obra.

The Most Lamentable Tragedy (2015, Merge)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Hold Steady, Fucked Up e The Clash
Ouça: No Future Part IV : No Future Triumphant e More Perfect Union

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.