Disco: “The Ocean”, Two Bicycles

/ Por: Cleber Facchi 05/04/2011

Two Bicycles
Ambient/Lo-Fi/Chillwave
http://www.myspace.com/twobicycles

 

Por: Cleber Facchi

Em meio ao batalhão de artistas que vem a cada dia edificando (ou desconstruindo) ainda mais a chillwave, lançar um disco que soe de forma inovadora e consiga se manter livre das comparações é uma tarefa nada fácil. Porém todos estes elementos assertivos podem ser encontrados em The Ocean (2011), disco de estreia do Two Bicycles, projeto paralelo do canadense Teen Daze e que prova o quanto ainda é possível se reinventar e se manter mais do que distantes de fórmulas repetitivas.

O álbum é basicamente uma constatação do óbvio: Daze é muito melhor quando ausente de vocais e se dedicando exclusivamente ao elaborar de sonoridades. Em pouco menos de 40 minutos, o jovem canadense tece uma fina rede musical através do uso de uma instrumentação que varia entre o acústico, o eletrônico e o ruidoso. Assim como Lady Lazarus em Mantics (2011) e Julianna Barwick no sofisticado The Magic Place (2011), o músico se encaminha dentro de um registro em que o agregado de elementos da forma a um cuidadoso resultado final.

Se como Teen Daze – através de trabalhos como My Bedroom Floor (2010) e Beach Dreams EP (2010) – o canadense se apega ao uso de colagens instrumentais variadas, sejam elas criadas por ele ou não, com o Two Bicycles tudo soa original e recentemente tirado do forno. É como se cada uma das canções fossem feitas de maneira artesanal, com Daze moldando, temperando e assando cada uma delas. O músico deixa de lado seu laptop para desenvolver um som quase que unicamente orgânico, onde teclados, pianos e violões definem as características principais do registro.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=GlQkEeLKmjI]

The Ocean é um álbum para ser apreciado de maneira única, sem pausas, deixando que as camadas de som ambientais te atinjam de maneira suavizada, como se fossem ondas provindas de um grande mar instrumental. É difícil ouvir cada uma das músicas separadamente, quase como se de todo esse mar fosse retirada uma pequena porção. Você sabe o que é aquilo, compreende sua fragmentação, mas ela sempre vai parecer uma parte mínima, incoerente e distante do todo.

Muito mais do que um amontoado de sons e texturas, o disco consegue sensibilizar o ouvinte. Os arranjos bem trabalhados de Daze despontam um caráter profundamente confessional, quase como se Sunset, Moon Colours, Visions e as demais faixas fossem parte de uma trilha sonora imaginária, um registro acústico para o cotidiano, seja ele voltado ao canadense ou a qualquer ouvinte. Há desde momentos marcados pelo sentimentalismo sombrio como momentos de maior lucidez como em I’m Not Afraid To Wait For You, uma das mais belas criações de todo o álbum.

O novo registro de Teen Daze ou Two Bicycles parece mais como um complemento para os sons levemente ensolarados de sua “carreira solo”. Embora soe como um trabalho completamente abstrato e que navegue a todo o momento pela música etérea The Ocean conta sempre com algum elemento que o puxe de volta para o mundo real, seja um arranhar das cordas de violão ou um leve deslize nos teclados, mostrando que os sons ali são humanos e que talvez por isso soem ainda mais sentimentais.

 

The Ocean (2011)

 

Nota: 7.4
Para quem gosta de: Teen Daze, Lady Lazarus e Julianna Barwick
Ouça: Sunset

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/12740163″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.